Nossa viagem de trem só não foi melhor porque tivemos que acordar durante a noite para cruzar a fronteira entre a Geórgia e a Armênia. Além disso, a viagem não é tão longa assim, e chegamos relativamente cedo em Erevan. O curioso na fronteira é que na entrada da Armênia, todos os estrangeiros que precisam de visto têm que descer do trem. Eles contam que todos que precisam tirar o visto vão efetivamente tirar o visto, mas não era o nosso caso, já que nós já tínhamos tirado o visto no Brasil. Quando consegui entender o que se passava e explicar isso ao oficial, ele então nos mandou para uma outra sala onde teríamos nosso passaporte carimbado. Até aí tudo OK, mas é que os oficias começaram a processar nossos passaportes dentro da sala, com toda a galera, que foi chegando olhando para a tela do computador, nunca tinha visto aquilo em lugar nenhum do mundo.
A chegada em Erevan foi tranquila, pegamos o metro e fomos pro hostel. Era meio apertado, mas bem localizado. Deixamos as coisas lá e partimos imediatamente. Fomos andando até o Museu do Genocídio Armênio. No caminho passamos por um monumento que lembra as províncias do oeste da Armênia, que foram perdidas para o Império Otomano. O Museu está em reformas, pois ano que vem eles vão relembrar o centenário do genocídio. Mas pelo menos há uma sala operando, com fotos e textos sobre o genocídio, bem elucidativo.
O calor estava senegalesco, mas tínhamos que prosseguir, pois só tínhamos um dia em Erevan. Então pegamos um ônibus para Echmiadzin, que é o Vaticano da Igreja Apostólica Armênia. São mais ou menos 20 minutos, não muito longe. Echmiadzin foi capital da Armênia por somente 160 anos, há quase 2.000 anos, mas se transformou em um local de importância sem igual para os cristãos armênios. Aqui, Surp Grigor Lusanovich, o São Gregório o Iluminador, viu cair uma luz na terra, e foi onde ele construiu a primeira Igreja Mãe da Armênia (Mayr Tachar). O local na verdade é um grande complexo, com uma catedral famosa Mayr Tachar, um Palácio, várias outras igrejas uma livraria, etc. Isso tudo com jardins, fontes, esculturas, enfim, um lugar super agradável, feito para se passar muito tempo. Era sábado e estava cheio, principalmente de armênios, alguns festejando casamentos, mas vimos muitos turistas estrangeiros também. Para nós,, havia 2 problemas : o calor infernal e o tempo escasso. Então depois de uma visita menos demorada do que merecia, tomamos o caminho de volta para Erevan.
A última etapa do dia foi dedicada ao centro de Erevan. E confesso que foi uma surpresa mais que agradável. Primeiro passamos pela Surp Grigor Lusavorich Cathedral, uma catedral nova construída em um estilo diferente, com muito mais linhas retas do que o normal, o que dá uma impressão de brutalidade. Depois fomos até a Lenin Square, onde obviamente tinha uma estátua do próprio, e que depois da queda da União Soviética, e independência da Armênia foi retirada de lá. Ela ficava bem no meio da praça, com trânsito em volta, e hoje não tem nada no seu lugar, então a sensação de ficar lá é estranha. O bom é que dá para ter uma visão de 360 graus dos lindos prédios que rodeiam a praça, como National Art Gallery, o State Museum of Armenian History e o Marriot Hotel.
O calçadão principal do centro está sendo reformado, e dá para ver que todas as grifes europeias estão chegando ou vão chegar. Depois vimos a Opera House, um lindo prédio, cercado por uma praça, cheia de esculturas, cafés, um movimento intenso de sábado à tarde. Passamos por várias praças, todas bem cuidadas, até chegarmos à atração principal da cidade. Trata-se do Cascade, que nada mais é um monumento comemorativo ao cinquentenário da Armênia Soviética. Como o nome insinua, é uma cascata de degraus, uma grande escadaria com 5 níveis. Cada nível tem uma fonte, algumas esculturas, jardins, etc. Lá no alto a construção parece inacabada, e está mesmo, pois com a independência da Armênia em 1991, eles suspenderam a obra. A vista lá de cima é fantástica, pena que já estávamos no final da tarde, quase escurecendo, mas deu para aproveitar. A descida foi de escada rolante, pois descobrimos que há todo um complexo interno, por baixo da escadaria, com galerias de arte, cafés, banheiros, etc.
Voltamos caminhando pro hostel, vendo o movimento de sábado. Na medida em que vamos nos afastando do centro, os prédios vão mudando, a cidade vai ficando com uma cara mais soviética, uma transformação gradual, mas constante. Por falar nisso, o idioma aqui rivaliza com o georgiano. Não dá para entender absolutamente nada. Sorte que muitas placas estão em inglês, e isso só tende a aumentar graças ao fluxo de turismo crescente.
Este dia foi dos mais cheios de atividades, vimos nele o que normalmente se vê em pelo menos 2 dias. Mas é o preço que pagamos pelo calendário apertado. Tivemos tempo sobrando na Geórgia, e agora é ao contrário. Mas seguramente valeu à pena. E também não tinha como ir da Geórgia para o Irã sem passar por aqui.