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Monthly Archives: October 2014

Erevan – uma surpresa agradável

Nossa viagem de trem só não foi melhor porque tivemos que acordar durante a noite para cruzar a fronteira entre a Geórgia e a Armênia. Além disso, a viagem não é tão longa assim, e chegamos relativamente cedo em Erevan. O curioso na fronteira é que na entrada da Armênia, todos os estrangeiros que precisam de visto têm que descer do trem. Eles contam que todos que precisam tirar o visto vão efetivamente tirar o visto, mas não era o nosso caso, já que nós já tínhamos tirado o visto no Brasil. Quando consegui entender o que se passava e explicar isso ao oficial, ele então nos mandou para uma outra sala onde teríamos nosso passaporte carimbado. Até aí tudo OK, mas é que os oficias começaram a processar nossos passaportes dentro da sala, com toda a galera, que foi chegando olhando para a tela do computador, nunca tinha visto aquilo em lugar nenhum do mundo.

Trem de Tbiisi para Erevam

Trem de Tbiisi para Erevan

A chegada em Erevan foi tranquila, pegamos o metro e fomos pro hostel. Era meio apertado, mas bem localizado. Deixamos as coisas lá e partimos imediatamente. Fomos andando até o Museu do Genocídio Armênio. No caminho passamos por um monumento que lembra as províncias do oeste da Armênia, que foram perdidas para o Império Otomano. O Museu está em reformas, pois ano que vem eles vão relembrar o centenário do genocídio. Mas pelo menos há uma sala operando, com fotos e textos sobre o genocídio, bem elucidativo.

Memorial em homenagem às 12 províncias perdidas

Memorial em homenagem às 12 províncias perdidas, com uma galera local

O calor estava senegalesco, mas tínhamos que prosseguir, pois só tínhamos um dia em Erevan. Então pegamos um ônibus para Echmiadzin, que é o Vaticano da Igreja Apostólica Armênia. São mais ou menos 20 minutos, não muito longe. Echmiadzin foi capital da Armênia por somente 160 anos, há quase 2.000 anos, mas se transformou em um local de importância sem igual para os cristãos armênios. Aqui, Surp Grigor Lusanovich, o São Gregório o Iluminador, viu cair uma luz na terra, e foi onde ele construiu a primeira Igreja Mãe da Armênia (Mayr Tachar). O local na verdade é um grande complexo, com uma catedral famosa Mayr Tachar, um Palácio, várias outras igrejas uma livraria, etc. Isso tudo com jardins, fontes, esculturas, enfim, um lugar super agradável, feito para se passar muito tempo. Era sábado e estava cheio, principalmente de armênios, alguns festejando casamentos, mas vimos muitos turistas estrangeiros também. Para nós,, havia 2 problemas : o calor infernal e o tempo escasso. Então depois de uma visita menos demorada do que merecia, tomamos o caminho de volta para Erevan.

Echmisdzin - Catedral em restauração

Echmiadzin – Catedral Mayr Tachar em restauração

Echmiadzin - uma das muitas esculturas nos jardins

Echmiadzin – uma das muitas esculturas nos jardins

Zé das Medalhas

Zé das Medalhas

A última etapa do dia foi dedicada ao centro de Erevan. E confesso que foi uma surpresa mais que agradável. Primeiro passamos pela Surp Grigor Lusavorich Cathedral, uma catedral nova construída em um estilo diferente, com muito mais linhas retas do que o normal, o que dá uma impressão de brutalidade. Depois fomos até a Lenin Square, onde obviamente tinha uma estátua do próprio, e que depois da queda da União Soviética, e independência da Armênia foi retirada de lá. Ela ficava bem no meio da praça, com trânsito em volta, e hoje não tem nada no seu lugar, então a sensação de ficar lá é estranha. O bom é que dá para ter uma visão de 360 graus dos lindos prédios que rodeiam a praça, como National Art Gallery, o State Museum of Armenian History e o Marriot Hotel.

Surp Grigor Lusavorich Cathedral

Surp Grigor Lusavorich Cathedral

Erevam - Lenin Square

Erevan – Lenin Square

O calçadão principal do centro está sendo reformado, e dá para ver que todas as grifes europeias estão chegando ou vão chegar. Depois vimos a Opera House, um lindo prédio, cercado por uma praça, cheia de esculturas, cafés, um movimento intenso de sábado à tarde. Passamos por várias praças, todas bem cuidadas, até chegarmos à atração principal da cidade. Trata-se do Cascade, que nada mais é um monumento comemorativo ao cinquentenário da Armênia Soviética. Como o nome insinua, é uma cascata de degraus, uma grande escadaria com 5 níveis. Cada nível tem uma fonte, algumas esculturas, jardins, etc. Lá no alto a construção parece inacabada, e está mesmo, pois com a independência da Armênia em 1991, eles suspenderam a obra. A vista lá de cima é fantástica, pena que já estávamos no final da tarde, quase escurecendo, mas deu para aproveitar. A descida foi de escada rolante, pois descobrimos que há todo um complexo interno, por baixo da escadaria, com galerias de arte, cafés, banheiros, etc.

Esculturas na rua

Esculturas na rua – Erevan

Escultura Fernando Botero

Escultura Fernando Botero

Cascade

Cascade

Vista lá de cima do Cascade

Vista lá de cima do Cascade

Voltamos caminhando pro hostel, vendo o movimento de sábado. Na medida em que vamos nos afastando do centro, os prédios vão mudando, a cidade vai ficando com uma cara mais soviética, uma transformação gradual, mas constante. Por falar nisso, o idioma aqui rivaliza com o georgiano. Não dá para entender absolutamente nada. Sorte que muitas placas estão em inglês, e isso só tende a aumentar graças ao fluxo de turismo crescente.

Dá para entender alguma coisa?

Dá para entender alguma coisa?

Este dia foi dos mais cheios de atividades, vimos nele o que normalmente se vê em pelo menos 2 dias. Mas é o preço que pagamos pelo calendário apertado. Tivemos tempo sobrando na Geórgia, e agora é ao contrário. Mas seguramente valeu à pena. E também não tinha como ir da Geórgia para o Irã sem passar por aqui.

 
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Posted by on October 29, 2014 in Armênia, Caucasus, Cáucaso

 

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Mtskheta – capital espiritual da Geórgia

Mtskheta é outro passeio perto de Tbilisi que vale à pena. Foi a capital da Geórgia por 8 séculos, do século III AC até o século V DC, quando a capital foi transferida para Tbilisi. Não fica longe, de transporte público demora meia hora pra chegar lá, A cidade é um brinco, toda de pedra, e bem pequena. De cara demos com a grande e imponente Catedral Svetitskhoveli, construída no século XI. É certamente uma das mais bonitas de todo a viagem.

Svetitskhoveli Cathedral

Svetitskhoveli Cathedral

Depois de visitá-la, passeamos pela pequena cidade, e arranjamos um taxi para nos levar até o topo de um morro do outro lado do rio, realmente não dava para ir à pé. Delá pra ter uma vista bacana de Mtskheta.

Vista de Mtskheta

Vista de Mtskheta

E lá fica a Javri Church,que é considerada na Geórgia a mais sagrada do país. Por isso Mtskheta é a capital espiritual da Geórgia. Ela foi construída no século VI, mas a cruz do lado de fora é do século IV.

Jvari Church

Jvari Church

Pra variar, muito calor. Aliás, essa foi a maior onda de calor na região das últimas décadas, realmente prejudicou um pouco nossos programas, afeta qualquer ser humano fazer tudo isso com um calor de 40 graus.

Voltamos à Mtskheta, para mais um passeio à pé, e depois retornamos pela última vez para Tbilisi. À noite era nosso trem para Erevan, na Armênia. Nos despedimos de nosso restaurante predileto, da galera do hostel que nos aturou por tanto tempo, e finalmente do nosso parceiro inseparável Carrefour, que nos abasteceu durante mais de uma semana.

Fomos para a estação de trem, e embarcamos para Erevan, próximo capítulo desta longa (pra mim) jornada.

A Geórgia, como havia escrito antes, foi nosso grande hub da viagem, até porque fica no meio do caminho de tudo. Se foi nosso hub, imagina durante séculos, foi hub da viagem de todo mundo, todos os conquistadores, guerreiros, povos em trânsito, etc. Uma mistura de culturas, que culminou com sua cultura única, diferente até dos vizinhos. Comida ótima, povo hospitaleiro, facílimo de viajar, mesmo considerando aquele alfabeto incompreensível. Um povo orgulhoso, até porque recentemente enfrentou a poderosa e invencível Rússia, e mesmo sem ter vencido, claro, é motivo de orgulho para todos. Recomendo fortemente para quem tem interesse em tudo o que escrevi. Reconheço que nunca esteve na minha lista de prioridades, mas a Geórgia saiu como a estrela do Cáucaso.

Acho difícil voltar para a Geórgia espontaneamente, até porque gosto de ir a novos destinos, mas ao contrário do Azerbaijão, não teria nenhum problema caso tivesse que passar por aqui de novo.

 

 
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Posted by on October 27, 2014 in Caucasus, Cáucaso, Georgia

 

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Davit Gareja – complexo de monastérios

Tínhamos mais 2 dias em Tbilisi, que sobraram por conta de não termos conseguido o visto para a Ossétia do Sul. Então escolhemos os 2 melhores programas fora de Tbilisi. E um deles foi visitar Davit Gareja, um complexo de monastérios, na fronteira com o Azerbaijão.

Bem perto de nosso hostel era a saída para este tour, em uma van somente com turistas. Melhor do que pegar transporte público, até porque neste caso Davit Gareja fica longe de qualquer cidade. Foi bem conveniente. Na largada, antes mesmo da van sair, conhecemos uma francesa que já morou no Brasil, e falava português fluente, e um brasileiro gente finíssima, o Alex, de Campinas. Fomos então batendo longos papos com os 2 no caminho, trocando experiências, nem sentimos o tempo passar.

O local é bem remoto, a paisagem é semi lunar, muitas rochas, um calor de rachar, e muito o que caminhar. Se fosse só caminhar, já estaria difícil. O problema é que pra visitar as melhores atrações do complexo, tem que escalar uma montanha, debaixo de uma sol inclemente. Já merecíamos um prêmio só por estar lá.

O primeiro monastério, logo na chegada, é o Lavra. Ele é composto por 3 níveis, cada um de uma época diferente. A área mais antiga data do século VI e a mais nova do século XVIII. Ele foi atacado e destruído várias vezes ao longo da história, por vários invasores, mas resistiu ao seu jeito, e está aí como uma bela atração turística. Já foi habitado por muitos monges, a maioria mortos durante ataques, e hoje uns poucos monges ainda moram por lá.

Lavra Monastery

Lavra Monastery

Lavra visto de cima, olha a paisagem e a pirambeira!

Lavra visto de cima, olha a paisagem e a pirambeira!

Para visitarmos o segundo monastério mais importante tivemos que subir o morro, passar por uma barra de ferro, que marca a fronteira com o Azerbaijão. Tinha até 2 guardas de fronteira azeris lá em cima, torrando no sol. Quem em sã consciência vai tentar passar de um país papa o outro neste local? É pior do que a fronteira EUA – México. Bem do lado de lá do morro, tem uma trilha que leva ao Udabno Monastery, que nada mais é do que uma sequência de cavernas, que serviam de igrejas, capelas, refeitórios, etc, todos decorados por pinturas que datam desde o século X.

Udabno Monastery

Udabno Monastery

Demos a volta completa, e descemos até o ponto de partida, passando por vários outros monastérios, uma capela de pedra bem bonita que fica no alto do morro. Muitas fotos, muito calor, mas valeu bem à pena, pois é um lugar bem diferente de tudo, além de ser remoto. Um programa único.

Capela de pedra

Capela de pedra

Voltamos para Tbilisi, mais papo na van, paramos no caminho para um lanchinho. Bom lugar para socializar com outros turistas.

Bate papo na volta

Bate papo na volta

Chegamos cedo em Tbilisi, à tempo de darmos mais uma volta na cidade velha, fazer nosso tradicional rango georgiano e voltarmos para o nosso hostel. A galera que trabalha no hostel é composta só de garotada, também bons de papo. Só de imaginar que, mesmo jovens, já presenciaram uma guerra, no caso com a Rússia, em 2008, me fez pensar em como sortudos de viver em um país sem guerras, externas pelo menos.

 
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Posted by on October 21, 2014 in Caucasus, Cáucaso, Georgia

 

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Dargavs – A Cidade dos Mortos

Tínhamos combinado com um amigo do Zico para nos pegar no hotel em Vladikavkaz, nos levar a Dargavs, um local à 80 kms, e de lá nos levar de volta à Kazbegi, na Geórgia. Aparentemente era fácil, tudo muito perto, mas na prática não foi bem assim.

Dargavs se trata de um local do século XIII, onde o pessoal deixava os mortos dentro de umas casinhas com uma cara meio simpática. Pra chegar lá, pegamos uma estrada boa, depois saímos para uma menor, mas ainda boa, depois da última cidade naquela região, passamos para uma estrada menor ainda. Quando começa a subir de verdade, a vista vai ficando um show.

Última vila antes de Dargavs

Última vila antes de Dargavs

Vista de um forte em ruínas

Vista de um forte em ruínas

Mais uma meia hora e chegamos em um povoado perdido. Era manhã, e um casal simpático foi nos orientar em como chegar lá. Estávamos à 5 minutos.

Com um casal simpático no meio do nada

Com um casal simpático no meio do nada

A vista de Dargavs de longe já é pitoresca, de perto mais ainda. O local é tão remoto, e tão pouco visitado, que a bilheteria estava fechada, e permaneceu assim por todo o tempo que ficamos. Não chegou nem um funcionário, e nem turista. Somente nós. As casinhas, que não são casinhas, são tumbas, com esqueletos dentro. Os locais não gostam de ir lá, pois dizem que quem vai não volta. Com certeza não foi o nosso caso.

Dargavs

Dargavs

Casinhas simpáticas de perto

Casinhas simpáticas de perto

Depois de pouco mais de uma hora por lá, resolvemos partir de volta para a Geórgia. Pegamos a mesma estrada de volta para Vladikavkaz, e de lá direto para a fronteira. Hoje a fronteira estava mais cheia do que ontem, não sei se porque era no outro sentido. Nosso motorista repetiu o script do Zico, ultrapassando todo mundo, furando fila, na maior cara de pau. Passamos pela saída da Rússia, e entramos naquela terra de ninguém. Aí a coisa ficou feia. Entre os 2 túneis o trânsito parou, e claro que vários motoristas tiveram a mesma ideia de ultrapassar mesmo assim. Quando começou a vir carro do outro sentido a estrada parou de vez, e alguns resolveram ir pelo acostamento do outro lado, e piorou tudo que podia. Ficamos mais de uma hora até eles se entenderem, e darem passagem para quem vinha do outro sentido. O que deu pra perceber é que do lado russo a coisa é bagunçada e os mafiosos mandam no pedaço. Do lado georgiano é diferente, tudo organizado, com fiscalização, e aí todos respeitam.

Caos na terra de ninguém (entre a Rússia e a Geórgia)

Caos na terra de ninguém (entre a Rússia e a Geórgia)

Depois que cruzamos a última fronteira, após mais de 3 horas nas filas, o motorista nos deixou em Kazbegi. De lá pegamos uma van para Tbilisi. Na saída, algumas surpresas, A primeira foi essa aí na foto :

Presos na estrada em um mar de ovelhas

Presos na estrada em um mar de ovelhas

Depois paramos no mirante de novo. E ainda paramos mesmo forte da ida. mas o que mais me impressionou foi a fila de carros e caminhões subindo as montanhas. A polícia fez um bloqueio para não congestionar mais ainda a fronteira. Mesmo com todo a fila que vimos e enfrentamos, havia uma fila de caminhões parados no acostamento da estrada com mais de 10 kms, e ainda várias filas de carros também parados de quilômetros. Acho que demos sorte, pois decidimos atravessar a fronteira no dia seguinte que ela reabriu, e não deu tempo dessa galera chegar lá. Como ela reabriu antes do previsto, quem estava perto, como nós, se deu bem. Muitos tinham ido para o Azerbaijão, entrar na Rússia por lá, pois a previsão era de mais alguns dias ainda para reabrir esta fronteira.

Chegamos à noitinha em Tbilisi, e ainda deu tempo pra novo rango no nosso restaurante predileto.

Nosso restaurante na Gorgasalis Moedani - dá pra entender o nome?

Nosso restaurante na Gorgasalis Moedani – dá pra entender o nome?

Rango georgiano

Rango georgiano

 
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Posted by on October 20, 2014 in Caucasus, Cáucaso, Russia

 

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Chechênia – esta visita não se conta em lugar nenhum

A região que engloba Ossétia, Inguchétia, Chechênia e Daguestão foi habitada há séculos por diversas etnias, que em geral eram governadas por clãs, respeitavam seus líderes, relações sanguíneas, e sempre foram muçulmanas sunitas. A União Soviética, na época de Stalin alterou tudo, mandando os inguches e chechenos para a Sibéria, os acusando de colaboração com os nazistas. Seus territórios e propriedades foram ocupados pelos vizinhos ossetas e daguestaneses, o que originou vários conflitos locais, principalmente após a volta deles. Com o fim da União Soviética em 1991, os chechenos declararam independência. Pela sua posição estratégica, produtora de petróleo, e passagem da Rússia para o outro lado do Cáucaso, a Rússia jamais iria permitir esta separação. Desta forma, o bicho pegou, e o exército russo interveio, originando a primeira das 2 guerras na Chechênia, o que causou mais de 150.000 mortes em 10 anos de conflito. Claro que o conflito aberto não existe mais, por enquanto. Mas a insatisfação do povo com os russos só aumenta, e claramente ainda é um barril de pólvora. A Rússia controla tudo com mão de ferro, e não vai deixar a Chechênia escapar. O controle é tão forte, que os próprios russos dizem que a Chechênia é um dos lugares mais seguros da Rússia hoje em dia. Não é. Há 2 dias houve um atentado de um homem bomba, em um teatro em Grozny. Ainda bem que já voltamos.

A passagem pela fronteira Geórgia – Rússia e a novela de Vladikavkaz foi tão longa que tive que dividir o mesmo dia em 2 posts. No nosso imaginário, ao mesmo tempo que o nome Chechênia assustava por conta da guerra recente, as informações que obtive na internet e com o Guilherme é que era de pura calmaria. E que Grozny estaria reconstruída, depois de ter todos, repito, todos os prédios destruídos na guerra.

Finalmente saímos de táxi para Grozny, na Chechênia. Nosso motorista de táxi não conhecia Grozny, e não entendia porque estávamos gastando tempo e dinheiro para visitá-la, em vez de ir fazer um churrasco nas montanhas. Demos boas risadas com ele. A estrada está em reforma, parte dela já duplicada, e parte ainda em duplicação. Por que estou mencionando este fato? Porque o nosso glorioso motorista se empolgou, acelerou a mais de 130 km/h em um trecho não duplicado. Eu vi uma placa informando que a pista ia virar dupla, e que os carros deveriam desviar à direita, mas aparentemente nem ele nem ninguém viu. O que acabou acontecendo é que ele continuou em frente, na contramão, à 130km/h. Meu coração bateu mais rápido do que isso. Mas claro que não vinha nenhum carro no sentido contrário, se não eu não estaria escrevendo este post agora.

O caminho é meio monótono, e logo chegamos à Grozny. A primeira impressão foi de uma cidade russa qualquer, até chegarmos à avenida principal e depararmos com prédios novos, vários deles altos, hotéis, edifícios comerciais. Como o motorista não conhecia Grozny, e estava com medo de ser parado pela polícia, ele resolveu parar em um estacionamento, e dali caminhar pelo centro, que não dá mais pra chamar de histórico. O que vimos foi uma avenida com quase nenhum pedestre, um ambiente meio artificial. Depois dos prédios comerciais, uma mesquita estalando de novo, um teatro ainda em construção, enfim, tudo novo. Nada que me fizesse relacionar com uma guerra tão recente. Fazia sentido estar tudo reconstruído, mas a sensação era bem estranha.

Shopping novo e com pouco movimento

Shopping novo e com pouco movimento

Mesquita nova de Grozny

Mesquita nova de Grozny

Hotéis e edifícos comerciais

Hotéis e edifícios comerciais

Teatro Nacional quase pronto

Teatro Nacional quase pronto

Andamos bastante, até a mesquita, a avenida de trás, as construções são espaçadas, então tudo é meio longe. Na volta pro carro, começaram a implicar com nossas bermudas. Foi estranho, um ciclista cruzou por mim, depois de um tempo ele deu meia volta, e começou a falar meio agressivamente, puxando a sua própria calça jeans. Concluí que ele estava reclamando do fato de eu estar de bermuda. Aliás, fora nosso motorista, todos estavam de bermuda. Depois alguns carros passaram e as pessoas gritavam da janela algo obviamente ininteligível, mas que concluímos se tratar ainda das bermudas. O clima foi ficando meio quente, e felizmente bem na hora que voltamos ao carro.

Memorial na Inguchétia

Memorial na Inguchétia

Demos mais uma volta pela cidade de carro, e decidimos voltar para Vladikavkaz. Não podia deixar de mencionar o estilo russo de dirigir na estrada. Quando a pista é simples, isto é, mão e contramão, a prioridade é de quem está ULTRAPASSANDO. Isto significa que quem está andando certinho na sua faixa, corre o risco de bater de frente com um louco que vem de encontro. Ou sai da frente, ou acontece o acidente. Acho que todos os distraídos ou resistentes à este sistema devem ter morrido ou abandonado o país, pois o sistema aparentemente funciona bem, ninguém reclama quando vem alguém ultrapassando. Isso acontece até nas curvas. Pra nós, foi super estressante, não sabia se era melhor prestar atenção ou simplesmente não olhar e rezar (muito).

Chegamos todos vivos e intactos em Vladikavkaz. Fomos atrás de alimento, não nos esquecendo que quanto mais tempo ficássemos na rua, maior a probabilidade de sermos parados de novo pela polícia. Então fomos à um mercado perto do hotel, levamos comida pro quarto e dormimos.

Depois de uma dia deste, estávamos todos exaustos física, mental e emocionalmente. Volto a afirmar que não fomos ameaçados nem maltratados pela polícia, mas como não sabíamos qual seria o próximo capítulo, realmente foi muito estressante. Valeu à pena, pois o objetivo era este mesmo, visitar a Chechênia, e conseguimos. E com boas lembranças.

 
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Posted by on October 17, 2014 in Caucasus, Cáucaso, Russia

 

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Vladikavkaz – turismo?

Acordamos cedo, e o motorista já estava nos esperando, cheio de pressa. Tomamos café e partimos pra estrada. Como eu havia escrito, Kazbegi fica à 12 km da fronteira. A estrada passa por um canyon, com paredões de rocha dos 2 lados. O cara saiu como um louco, ultrapassando os carros nas curvas, nós ficamos em pânico. Logo entenderíamos o motivo de tanta pressa.

Chegamos ao posto fronteiriço georgiano, onde todos devem sair dos carros e entrar num salão. Daí é um salve-se quem puder, uma multidão disputando cada centímetro até chegar lá na frente e ser chamado pelos atendentes. Depois do carimbo, o motorista, que se chamava Zico, estava nos esperando com o carro ligado. Partimos então para o posto russo, passando por uma terra de ninguém, uns 3 à 4 kms de estrada, passando por 2 túneis até depararmos com uma fila imensa de carros parados. O Zico nem titubeou, foi ultrapassando todos até chegar à um ponto onde os carros que tinham feito o mesmo que ele não conseguiam avançar mais. Isso porque vinham carros no sentido contrário, e logo ninguém andava. Ele logo saiu do carro e começou a discutir com todos. Havia alguns caras que nitidamente controlavam a fila, e ditavam quem podia ir pela fila dupla e quem não podia (normalmente os armênios sempre tentavam, e nunca conseguiam).

Depois de muita discussão, um dando ré, outro indo para um espaço do outro lado da pista, acabaram dando passagem para alguns carros, e aí o Zico saiu em disparada pela contramão até embicar na frente de um carro que estava quase no ponto onde haviam bloqueios laterais de concreto, e daquele ponto ninguém iria conseguir mais furar a fila. O que entendi é que o cara que deixou ele entrar na frente era irmão dele, e estava o esperando. Por isso a pressa desde o início. Se tivéssemos entrado na fila normalmente, acho que teríamos perdido pelo menos umas 3 horas a mais naquela fila. Detalhe, durante todo o processo, mesmo com uma cara de mau que ele fazia para todos, ele sempre olhava pra nós e sorria, e piscava o olho. Uma figuraça. Claro também que não temos fotos deste episódio, é proibido tirar fotos na fronteira. Mas algumas conseguimos na volta.

A população original da Ossétia é descendente de indoeuropeus, que chegaram à região no século IV. Foram atacados pelos tártaros (tudo a ver com o molho) no século XIII, e se refugiaram nas montanhas. Os outros habitantes da área eram os inguches, que foram na sua maioria deportados por Stalin em 1944 para a Sibéria. Quando eles voltaram, na época do Kruschev, encontraram sua propriedades ocupadas pelos ossetas, e aí o caldeirão começou a ferver. O pau começou a comer em 1992, e os russos tomaram o partido dos ossetas. Então imagina o clima. Vladikavkaz fica na Ossétia, andando para o leste, passaríamos pela Inguchétia, e depois chegaríamos em Grozny, que fica na Chechênia. Isso tudo em pouco mais de 100 kms de estrada.

Uma meia hora a mais e chegamos em Vladikavkaz. Uma cidade absolutamente sem graça, sem atrações, típica cidade de interior russa. Mas a Rússia era novidade para o Leo, Khouri e Guilherme, então na primeira parada para o Zico pedir informações, saímos do carro para tirar algumas fotos, e aí começaram os problemas. Imediatamente veio um policial pedir nossos passaportes, e logo ligou para alguém,. Cinco minutos e chegou um carro de polícia. Depois de muito conversar com o Zico, nos levaram para uma delegacia. Lá ficamos quase 1 hora esperando eles nos registrarem, e acho eu, aguardar um chefe, que acabou chegando, confabulando e nos liberando. Fomos então para um hotel que o Guilherme tinha contato, mas para a nossa surpresa, eles se recusaram a receber estrangeiros. Tivemos que então rodar pelo centro, até encontrarmos outro hotel, que desta vez nos aceitou, mas pediu um preço indecente. Não estávamos em condições de negociar, pois já era quase 1 da tarde, e tínhamos como objetivo ir até Grozny e voltar no mesmo dia, 120 kms para ir e mais 120 kms para voltar.

Vladikavkaz

Vladikavkaz

Depois de deixar as coisas no hotel, o Zico nos deixou na estação de trem, pois era de lá que saíam os ônibus para Grozny. Ele arrumou um cara que ia nos pegar no hotel no dia seguinte, e nos levar até Dargavs, e de lá até Kazbegi, na Geórgia. Claro que não seria barato, mas era o preço para quem estava com pressa e queria ver atrações que eram longe, além é claro de atravessar aquela fronteira de novo. Mas isso é papo pra depois, nosso objetivo era ir até Grozny. Quando fomos fazer a primeira pergunta sobre que horas sairia o ônibus para Grozny, veio um policial nos pedir o passaporte. Demos pra ele, que imediatamente telefonou pra alguém, e esse alguém, um policial à paisana, logo chegou. Bem, ele ficou soletrando nossos nomes pra alguém pelo celular, claro que demorou uma eternidade. Depois veio tentar conversar comigo, mas logo viu que a conversa não ia fluir, pois seu inglês era fraco. Acabou me passando o celular dele, e me pedindo para eu conversar com a pessoa que estava do outro lado da linha.

A pessoa se identificou como do Serviço de Segurança e me fez uma saraivada de perguntas, como qual era a profissão e o nome da empresa que cada um de nós trabalhava, se tínhamos amigos na Rússia, e se eu já tinha visitado a Rússia antes. Bem, quando eu disse à ele que já tinha visitado Moscou vinte anos antes, ele logo concluiu : “Então você TEM amigos na Rússia”. Claro que usei toda a paciência do mundo para convencê-lo de que não tinha amigos na Rússia, apenas éramos turistas querendo conhecer Grozny, na Chechênia por poucas horas, voltar e ir embora da Rússia no dia seguinte. Se isso já não faz sentido para qualquer ser humano normal, imagina pro cara do Serviço de Segurança Russo, que nunca deve ter ouvido falar de gente com esta programação. Mas, enfim, depois de mais de 1 hora, ele nos liberou e desejou boa viagem.

Só que aí já tinha ficado tarde demais para pegarmos o ônibus, e decidimos negociar com um táxi para nos levar, rodar um pouco, e voltar. Isso sem nenhum motorista de táxi falar inglês. Não foi muito difícil em menos de 5 minutos já estávamos dentro de um táxi, e quando o motorista deu a partida, o mesmo policial à paisana colocou a cabeça pra dentro do táxi e perguntou : “Vocês não disseram que iam de ônibus?”. A vontade era de dar uma porrada na cabeça dele, ou de gargalhar, mas tivemos que explicar que tínhamos perdido muito tempo COM ELE, e por isso mudamos os planos. Tudo certo, partimos.

Na saída de Vladikavkaz, uma blitz, e quando o policial avistou 4 turistas dentro do carro, logo pediu meu passaporte. Incrível, parecia um pesadelo sem fim. Mas logo nos liberou, e fomos embora. Uma coisa tem que ser dita antes de alguma conclusão precipitada : todos os policiais foram super educados, não tivemos nenhum problema, além de perder muito tempo com eles.

 
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Posted by on October 13, 2014 in Caucasus, Cáucaso, Russia

 

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Kazbegi – Shangri-la da Geórgia

De novo deixamos as mochilas no hostel de Tbilisi, e fomos com pouca coisa rumo ao norte, direto para Kazbegi, um vilarejo no Cáucaso. Só não diria que ele fica perdido, pois ali passa a famosa Georgian Military Highway, que liga Tbilisi à Vladikavkaz, a principal cidade da Ossétia do Norte, república no sul da Rússia. É a única ligação da Geórgia para a Rússia. Aliás, da Rússia faz fronteira com a Abcásia, Geórgia e o Azerbaijão. A Abcásia eu já expliquei como é problemática, e assim só sobram 2, sendo que a fronteira com o Azerbaijão fica colada à Inguchétia, uma república problemática, que também quer se separar da Rússia, e que fica mais para o leste, longe da Turquia. Desta forma, esta fronteira é a mais utilizada por caminhões, e pessoas, e estava fechada havia mais de uma semana.

A estrada de Tbilisi passa pelo forte medieval de Ananuri, antes de iniciar a subida. Ela vai de 427m, em Tbilisi, até 1.740m em Kazbegi. Portanto, é uma bela subida, que inclusive passa por uma estação de ski, que estava fechada, por motivos óbvios (era verão). Paramos em um mirante para fotos, e continuamos até Kazbegi.

Forte Medieval de Ananuri

Forte Medieval de Ananuri

Mirante

Mirante

Vista do mirante

Vista do mirante

Finalmente chegamos à Kazbegi. Não tínhamos reservado nada, portanto fomos procurar hotel. A menina do hostel de Tbilisi tinha indicado um hotel, o Rooms Hotel, com uma vista legal, então seguimos a placa que o indicava. O caminho era morro acima, claro, e nem desconfiamos do que estava por vir.  Quando chegamos lá, era um super hotel novo, com um pátio cheio de espreguiçadeiras, para a galera curtir o visual, que era fantástico. Dentro, um lounge de primeira, super moderno, tocando altas músicas. Bem ficamos por ali quase 1 hora, tirando fotos, curtindo o visual, até cairmos na realidade de que era muito caro, e só queríamos realmente passar a noite, e partir para a Rússia. E ainda tínhamos que arrumar transporte, já que não há ônibus ou qualquer outro transporte público pra lá. Além disso, imagina a cara do Guilherme chegando lá à noite, e dando de cara com a conta deste hotel.

Kazbegi

Kazbegi

Vista do Rooms Hotel

Vista do Rooms Hotel

Fomos então procurar a Nazi Guest House, a mais famosa e popular de Kazbegi. Era realmente bem localizada, e popular. Pegamos uma quarto pra 4, na esperança de que o Guilherme iria chegar à noite.

Leo e Khouri na Nazi Guest House

Leo e Khouri na Nazi Guest House

Além de caminhar pela cidade, sempre rodeado pelo visual das montanhas, a grande atração de Kazbegi é a Tsminda Sameba Church. É o mesmo nome da igreja nova de Tbilisi, e quer dizer Holy Trinity Church. Ele fica à 2.200m de altitude, isto é, uma subida morro acima de quase 800m, mais do que o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Então nem vou tentar explicar a beleza da vista lá de cima. Ela foi potencializada depois de uma subida super íngreme, que nos fez pingar de suor, mesmo com o frio da montanha (pô, quanto tempo que não sentíamos frio, foi um alívio, depois de tanto calor). Chegamos exaustos. Muitos sobem de táxi, mas aí perde um pouco a graça. Na verdade, se soubéssemos da dificuldade para subir, acho que teríamos pensado 2 vezes se valia à pena pegar o táxi ou não. Bem, ficamos lá em cima curtindo o visual, tirando dezenas de fotos, até que veio uma super nuvem, fechou total o tempo, e acabou com a brincadeira. Se tivéssemos demorado mais um pouco, não teríamos visto nada.

Holy Trinity Church

Holy Trinity Church

A igreja, de perto

A igreja, de perto

Dizem que a descida sempre é mais fácil do que a subida. Neste caso, não posso dizer o mesmo. Muito íngreme, e o velhinhos já estavam cansados, então foi bom dolorida, principalmente para os joelhos e músculos da perna. Mas chegamos inteiros, tomamos um belo banho quente, jantamos, e logo depois chegou o Guilherme. Ele já tinha arranjado um motorista para nos pegar na manhã seguinte, e nos levar até Vladikavkaz. Pela primeira e única vez na viagem, iríamos dormir com cobertores.

 
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Posted by on October 7, 2014 in Caucasus, Cáucaso, Georgia

 

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Tbilisi – uma capital carismática

Voltei para Tbilisi, pois o Leo e o Khouri estavam para chegar. O Guilherme acabou não voltando comigo. Nosso plano inicial era atravessar da Geórgia para a Rússia, e visitar Grozny, na Chechênia, e a Ossétia do Sul. Tudo isso iria nos tomar 3 noites. Descobrimos que houve um deslizamento de terra na fronteira, em cima do posto fronteiriço, e ela fechou totalmente. A previsão de liberação ao tráfego seria de pelo menos 10 dias. O que fazer com todo este tempo livre? Decidi ficar mais um dia em Tbilisi, o dia que o Khouri chegava. Estávamos programando ir neste dia mesmo de manhã, e desta forma, 1 dos dias estava resolvido. Sem saber o que fazer, o Guilherme decidiu ir para Svaneti, e eu voltei para Tbilisi.

Foi uma feliz coincidência Tbilisi ter virado nosso hub na viagem. Uma cidade charmosa, fácil de andar, com diversas atrações, restaurantes, mercados (Carrefour!!), e o hostel era muito bom. O staff era simpático e prestativo, a estrutura era muito boa. Enfim, a cidade ideal para perdermos um pouco de tempo.

Voltei de ônibus de Zugdidi, e cheguei à noite no hostel. Leo chegou de madrugada, morto de cansaço, e acordamos tarde. Tínhamos o dia todo para matar, já que o Khouri chegaria na madrugada seguinte, e ia querer visitar tudo de novo. Então o objetivo foi passear devagar, curtir a cidade velha, que é muito legal.

A parte mais baixa da cidade velha está toda reformada, cheia de restaurantes novos, cafés, bares, lojinhas, ficou bem turísitico. Inclusive há vários sites criticando esta mudança, dizendo que ela expulsou os moradores do local. Mas me pareceu mais uma evolução natural, se é que a cidade pretende atrair mais turistas.A parte mais alta está quase original, sem as lojinhas, os restaurantes, apenas alguns hostels.

Freedom Square

Freedom Square

Tbilisi Old Town

Tbilisi Old Town

Tbilisi - área de restaurantes

Tbilisi – área de restaurantes

Vimos a chegada da noiva e dos convidados para um casamento. Aliás, sábado é dia de casamentos lá também, e por toda a cidade há um desfile de carros enfeitados, muitas limusines, todos buzinando, e invariavelmente com alguns malucos sentados na janela, com metade do corpo pra fora dos carros.

Chegada pro casamento

Chegada pro casamento

Procissão dos casamentos

Procissão dos casamentos

Mais caminhadas pelo centro histórico, passamos pela Metekhi Bridge e chegamos à Metekhi Church, uma igreja que fica no alto de um penhasco. Sensacional.

Metekhi Church

Metekhi Church

De lá, uma vista para um parque, onde estão construindo um museu bem esquisito, parecem 2 pernas cortadas. Além disso, há uma ponte toda futurística, a Baratashvili Bridge. Eu particularmente achei que ela não combinava com o entorno antigo.

Museu em construção, com Palácio do Governo ao fundo

Museu em construção, com Palácio do Governo ao fundo

Baratashvili Bridge

Baratashvili Bridge

O Khouri chegou na madrugada seguinte, também cansado. Acordamos tarde, e rodamos de novo pela cidade. Desta vez pegamos o teleférico para cima do morro, e apreciamos a vista lá de cima. Visitamos o Narikala Fortress, uma fortaleza imponente, mas meio destruída.Também, este forte era da época que Tbilisi era uma cidade persa, no século IV.

Tbilisi é uma cidade de 2 milhões de habitantes, e bem espalhada, portanto não dá pra ver tudo, apenas o entorno da cidade velha. Fomos à pé até a Tsminda Sameba Cathedral, a maior de Tbilisi, passando pelo Palácio Presidencial. Um calor infernal, fica difícil de fazer turismo assim. Mas à noite refresca um pouco. Descobrimos um restaurante de comida local bem legal, e viramos fregueses.

Narikala Fortress

Narikala Fortress

Vista do forte

Vista do forte

Tsminda Sameba Cathedral

Tsminda Sameba Cathedral

Descobrimos que a fronteira com a Rússia reabriu, e decidimos ir para Kazbegi, que fica nas montanhas, perto da fronteira, e de lá vamos tentar atravessar pra Rússia. Acho que aí tem cheiro de aventura, pois por enquanto está tudo muito fácil.

 
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Posted by on October 6, 2014 in Caucasus, Cáucaso, Georgia

 

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Abcásia – um país esquecido por todos (menos a Rússia)

Chegamos cedo em Zugdidi. A maioria dos turistas que chegam aqui, vão para Svaneti, uma região nas montanhas, que dizem ser lindíssima. Aliás, todo o norte da Georgia é separado da Rússia pelo Cáucaso, uma cadeia de montanhas que estabelece a divisão entre a Ásia e a Europa. São vários picos com mais de 5.000m de altitude Da estação, pegamos um táxi até a fronteira com a Abcásia, que fica à 12 kms de Zugdidi, bem pertinho. Vamos agora à mini aula de história e política, sem a qual não dá pra entender o que fomos fazer nesse lugar.

A Abcásia é um país reconhecido por poucos países, a maioria deles também não reconhecidos. Claro que existe um grande patrocinador nessa história, que é a Rússia. Bem a história recente é que houve uma guerra separatista em 1992 e 1993, que matou milhares de pessoas, e fez a população reduzir em 2/3. Hoje cerca de 180.000 pessoas vivem no país. Pela sua localização estratégica à beira do Mar Negro, suas belas praias, e ficar entre a Geórgia e a Rússia, é uma região estratégica. A Rússia reconhece a Abcásia como independente, mas a realidade é que estávamos na Rússia. A moeda é o rublo russo, a língua é o russo, o exército é meio abcásio, meio russo, e os turistas são russos. O dinheiro do país vem da Rússia. Precisa dizer mais alguma coisa?

A Geórgia reconhece a Abcásia como sua, portanto não há controle de passaporte na saída. Depois cruzamos uma longa ponte à pé, até chegarmos à fronteira da Abcásia.

Ponte que liga a Geórgia à Abcásia

Ponte que liga a Geórgia à Abcásia

Sukhumi, a capital do país fica bem no meio do caminho da fronteira sul (com a Geórgia) para a fronteira norte (com a Rússia), que é perto de Socchi, palco da última Olimpíada de Inverno. Da fronteira até Sukhumi são pouco mais de 100 kms, e pegamos um táxi junto com uma tiazinha, que não falava nada de inglês (nem de português). O motorista também não! Como tínhamos apenas uma autorização para entrar no país, tínhamos que ir no Ministério pegar o visto, o que nos permitira sair do país. É claro que virou prioridade. O problema foi descobrir que era feriado nacional (existe feriado regional na Abcásia?), e tava tudo fechado. Tínhamos que deixar para o dia seguinte. Neste trecho do país, da fronteira até a capital, só o que vimos foram prédios destruídos e/ou abandonados, quase ninguém nas ruas, quase nenhum carro, e muitas, muitas vacas perambulando pelo meio da estrada.

Prédios destruídos e abandonados

Prédios destruídos e abandonados

A procura por lugar pra dormir foi meio bizarra. Tínhamos indicação de um lugar, mas estava cheio. Quase ninguém fala inglês neste país, lembrem que os turistas são todos russos, pra que aprender o inglês? Como era feriado, e cedo, não havia uma alma viva nas ruas. Foi um pouco complicado, mas na sorte achamos um hotel fantástico. Com um pouco de negociação, chegamos à um preço bem razoável, mas ainda caro para nossos padrões. A questão é que o quarto era maravilhoso, espaçoso, com varanda, um luxo só. O dono do pedaço era gente finíssima, falava inglês, e cuidava do local com muito carinho, bem detalhista.

Mas não podíamos perder tempo, e logo caímos na rua. Fomos de táxi para a estação de trem, pois de lá sairia um ônibus que iria até a fronteira norte. Nosso objetivo era visitar o Monastério Novy Afon. Ele fica à 20 kms de Sukhumi, e a estrada parece uma Rio-Santos. Novy Afon fica no meio de um morro, de lá se tem uma vista belíssima, para a praia em frente, com seus turistas russos. Parecia outro país, ao norte de Sukhumi, vibrante, nada destruído, cheio de turistas e movimento.

Novy Afon

Novy Afon

Praia em frente à Novy Afon

Praia em frente à Novy Afon

Voltamos de ônibus para Sukhumi. Era ainda final de tarde, e a orla estava bem vazia, não sei se pro conta do feriado.

Orla de Sukhumi

Orla de Sukhumi

Também não sei se por conta do feriado, mas não conseguimos muitas opções para o jantar, acabamos jantando no que parecia ser o mais popular da cidade, de frente pro mar. Pra quem achava que ia passar perrengue na Abcásia, ficamos em um hotel quase de luxo, e jantamos no melhor restaurante. Saiu melhor do que a encomenda. Chegamos do jantar e o dono do hotel nos esperava com bolinho e chá. Que mordomia.

No dia seguinte acordamos cedo, e já tinha um banquete nos esperando. Nada de buffet, até porque além de nós, só tinham 3 ciclistas poloneses, que tinham perdido o dia esperando o visto para poder sair do país. Tudo feito na hora, no capricho.

Fomos buscar nosso visto, e de lá para a estação de ônibus, pegar um transporte de volta para a fronteira.

Visto Abcásia

Visto Abcásia

O que posso dizer sobre este país? Aliás, é um país? Eu penso que sim. Eles têm seu próprio governo, exército, idioma, autonomia administrativa, claro que tudo isso com uma mãozona da Rússia, mas não deixa de ser um país. A Geórgia nunca mais vai tê-lo de volta, essa é uma realidade. Principalmente depois da confusão com a Ucrânia, a Rússia não vai deixar ninguém tocar nesta terra. O máximo que poderia acontecer é ela tomar pra ela mesma. Porém, se não fez até agora, é porque não precisa. Só reforçando o que eu já tinha escrito antes, quem entra pela fronteira norte, com a Rússia, é considerado ilegal pela Geórgia, e não consegue atravessar para a Geórgia, em vez de entrar no país, entra em cana (de verdade!). Claro que não era nosso caso.

Valeu à pena ter conhecido, nada imperdível, mas fazia parte do objetivo da viagem.

 

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Passagem rápida por Tbilisi

Chegamos em Tbilisi por volta da hora do almoço. Imediatamente compramos nosso bilhete de trem noturno para Zugdidi, a cidade na Geórgia mais perto da fronteira com a Abcásia. Claro que 2 noites seguidas dormindo em trem tinha tudo para dar errado. Já estava morto por não ter dormido muito no primeiro trem.

Bem, não tínhamos muito tempo em Tbilisi, apenas fomos cuidar de come. Já na primeira refeição provamos os 2 pratos típicos da Geórgia. O Guilherme comeu o khachapuri, que é uma torta de queijo, com muito queijo, geralmente com um ovo cozido em cima, e pra piorar de vez, tabletes de manteiga. Claro que pra mim era inviável, nem cheguei perto. Por outro lado, provei o segundo prato mais típico, que é o khikhali. Khikhali é uma espécie de ravioli gigante, que pode ter como recheio tudo que tiver na cozinha. Pode ser frito ou cozido.

Khachapuri

Khachapuri

Khikhali, este de carne

Khinkhali, este de carne

Bem, depois de devidamente abastecidos, fomos até o nosso hostel, para deixarmos nossas mochilas por lá. Como iríamos voltar à Tbilisi em 2 dias, para esperar o Leo, não valia à pena levar tudo. Com o calor que fazia dia e noite, só usando bermudas, claro que uma mochila pequena resolveria a parada. Não deu para ver muito de Tbilisi, apenas que é uma cidade mais viva que Baku, provavelmente mais interessante. O hostel ficava bem perto do Carrefour, o que facilitou bem a nossa vida.

Carrefour - deu pra entender?

Carrefour – deu pra entender?

Nessa altura do campeonato, deu pra sentir a dificuldade que teríamos de ler qualquer coisa nesta escrita que mais parece um devaneio pós modernista. Sorte nossa que na capital há muito inglês também, do contrário iríamos comer khinkhali ou khachapuri o tempo todo. Que horror!

Fomos de metro para a estação de trem, e de lá pegamos o trem para Zugdidi. Desta vez eu tava tão cansado, que dormi bastante. Só não dormi mais porque na cabine tinha uma tiazinha passando mal, e reclamando, mas o tiozinho dela só queria dormir.

 
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Posted by on October 3, 2014 in Caucasus, Cáucaso, Georgia

 

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