Cruzamos a ponte que separa a Zâmbia do Zimbabwe, uma ponte de aço muito bonita. Claro que tivemos que cruzá-la à pe, pois a saída da Zâmbia fica antes da ponte, e a entrada do Zimbabwe do outro lado da ponte. A ponte então fica em uma terra de ninguém, mas é dali que as pessoas fazem o bungee jumping e outros saltos daquela altura (mais ou menos 100 metros). É óbvio que nem passou pela minha cabeça fazer uma loucura dessas, com o medo que tenho de alturas, mas devo confessar que para quem gosta, é um prato cheio. O local é simplesmente lindo.
Ponte fronteira
Após cruzarmos a fronteira, pegamos um táxi para o albergue, que era muito parecido com o de Livingstone, isto é, com piscina, área de lazer, etc. Inclusive os mosquitos, que não precisam de visto para cruzar de um país para outro.Pegamos uma piscina antes de sairmos para jantar, e conhecemos um casal de italianos e um indiano. Ficamos de papo com eles antes e depois do jantar, foi super agradável, cada um com sua visão da África, sua visão do mundo, todos bem viajados. É nessas horas que eu tenho certeza de que somente neste tipo de viagem e neste tipo de lugar que se tem mais oportunidades de se conhecer gente que pensa mais como eu penso, esmo morando do outro lado do mundo.
Engraçado que no final da noite, o italiano, que estava em um tour de 3 semana pela África com o mesmo grupo de europeus, disse que tinha conversado mais conosco somente naquele dia, do que com todo o grupo somado, em todas as 3 semana somadas. Não quer dizer que somente por estar na mesma viagem, as pessoas são do mesmo jeito.
O albergue ficava à uns 1.500 metros do centro, uma boa caminhada no final da tarde. Não nos sentimos em perigo em nenhum momento, apesar dos avisos que tivemos da situação político e econômica do país. A cidade é calma, feita para o turismo, quase não tem gente na rua. Comemos uma pizza no Centro e voltamos, aí sim de táxi para a pousada, pois já estava escuro.
Piscina do albergue
Já reservamos o rafting para o dia seguinte, já que não podíamos perder essa oportunidade. Confesso que nem quis pensar se era muito ou pouco perigoso, apenas reservamos e pronto.
O Rio Zambezi é conhecido como local de safaris, pois é lá que muitos animais vão procurar saciar sua sede, principalmente em época de seca. Claro que o rio é infestado de crocodilos e hipopótamos, que por sinal é o animal responsável pelo maior número de mortes de humanos na África. A perspectiva de se fazer um rafting em um local assim era no mínimo preocupante. Mas, consultando os sites de agências de turismo, todas oferecem o “White Water Safari” como uma das atrações principais.
No dia seguinte lá fomos nós. O grupo era de 6 pessoas, nós 3, mais um pai e filho do Zimbabwe, que tinham emigrado para o Reino Unido há muito tempo, e um americano gente boa, que se aposentou e resolveu gastar o dinheiro dele viajando para conhecer o mundo. O início do passeio foi meio radical, pois tivemos que descer o penhasco de 100 metros à pé, até chegarmos no local de partida, que ficava bem em baixo da ponte de aço. Colocamos nossos coletes salva vidas e capacetes, e lá fomos nós, após um breve treino de remadas, e sincronismo, que depois se mostrou infrutífero, com nosso guia. Além do nosso bota, havia 2 caiaques de apoio, um ia na frente e outro atrás. Nem quis perguntar para que, mas pelo menos não vi nenhuma cruz vermelha, que lembrasse primeiros socorros.
Prontos para a aventura
Ele explicou que seriam 19 quedas, durante 20 quilômetros de rio, e que iria explicando para nós o que fazer e não fazer antes de cada queda. Como estávamos em época de seca, o ria estava mais baixo, o que significava menos velocidade, porém as quedas seriam mais perigosas, pois com menos água, a distância da água para as pedras seria menor.
Logo depois da segunda queda, vimos um crocodilo tomando sol em uma pedra, na beira do rio. O próprio guia que nos mostrou, e não demonstrou qualquer preocupação, dizendo que não oferecia perigo. Como pode um crocodilo sobreviver em um trecho entre 2 corredeiras, com um penhasco de 100 metros de altura de cada lado? O que eles comem? Nem quis perguntar, com medo da resposta…
Altura do penhasco!!!
O rafting foi muito agradável, pois com o calor senegalesco, toda vez que nos molhávamos, era um alívio. Leo e Fabricio ficaram na frente do bote, americano e o filho do coroa do Zimbabwe ficaram na segunda fila e eu fiquei na rabeira, com o coroa, que tinha um papo super agradável. Consegui pegar sua visão do ocorrido com o país durante as calmarias, entre as quedas. Boa distração, inclusive para me fazer esquecer dos crocodilos.
Em uma das quedas, caímos todos do bote, foi super irada, afinal estávamos pagando para termos emoção. Em outra, antes da qual o guia nos preparou para o perigo, somente ele caiu do bote. Pegamos no pé dele bastante, claro.
Essa foi a parte tranquila hehehe
Em um determinado ponto, tivemos que descer do bote, e caminhar pelas pedras, pois aquela queda era muito agressiva, e o guia disse que não conseguiria garantir nossa segurança. Ele soltou o bote sozinho, que foi resgatado pelos 2 caras que estavam nos 2 caiaques. Faltando 2 ou 3 quedas, tinha um trecho que era bem plano, e a distância para a próxima queda era maior, então o guia nos disse para saltar do bote, e ir boiando com a correnteza. Eu já tinha feito isso em um rafting no Rio Paraibuna, e foi muito relaxante. E lá fomos nós. O Fabricio tinha trazido uma Go Pro à prova d’água, e ficou filmando tudo, atrás do bote. Até que o guia começou a gritar : “Secutiry, security, back to the boat!”. Claro que significava algum imprevisto. E depois ele apontou o imprevisto : um crocodilo descendo das pedras e entrando no rio. Eu nem me assustei muito, pois estava perto do bote, e não daria tempo para aquele crocodilo me alcançar, mas será que ele era o único? O Fabricio demorou um pouco mais para entender o que estava acontecendo, e ainda estava mais longe do bote, então fiz questão de avisá-lo, mas gritando bastante. E o pior é que não dava para subir sozinho no bote, dependíamos de alguém que estivesse dentro do bote para nos puxar. Claro que depois dessa, nem a mão eu coloquei mais na água, ainda bem que foi no final, e não deixei de aproveitar todo o passeio, que durou umas 3 horas.
Mas o clímax ainda estava por vir. Na chegada, o guia nos disse que tínhamos que carregar nosso remo e colete até o ponto de encontro, onde teríamos um almoço esperando por nós. Só que acho que para se vingar dos turistas colonialistas, a chegada foi no ponto onde havia o maior desnível, e tivemos simplesmente que subir um penhasco de mais de 150 metros, em um sol de 40 graus, carregando um remo e um colete, que após 5 minutos, pareciam pesar mais de 20 quilos cada um. Cheguei lá em cima bufando, e xingando a empresa do rafting. Eu até que estou habituado a subidas, mas aquilo não era para qualquer um, e não houve nenhum aviso antes. Uma pessoa com problemas no joelho certamente não iria conseguir, e não consegui vislumbrar nenhum plano B para vencer aquele penhasco.
Penhasco que tivemos que escalar
Companheiros de rafting
O que nos fez acalmar instantaneamente foi ver o almoço pronto, e bebidas geladíssimas nos esperando. Após algumas cervejas, um churrasco com salada (nem pensei na segurança alimentar), e tudo estava ótimo de novo.
Voltamos para Victoria Falls em uma caminhonete, batendo papo com os gringos, super legal o passeio, valeu super à pena, faria de novo fácil (menos a parte da natação).
Chegando de volta, fomos para nosso albergue tomar um banho de piscina e nos preparar para o jantar. No Centro tinha wifi gratuito, e troquei mensagens com a minha filha, e descobri que meu pai estava internado na UTI, correndo risco de morrer. Falei com minha irmã, médica, e mesmo não tendo muitos detalhes, ficou claro que eu tinha que abandonar a viagem e retornar para casa. Só que eu estava em Victoria Falls, interior do Zimbabwe, e não era tão simples assim voltar para casa. Era uma quarta-feira, e no dia seguinte, no final da tarde eu já iria embarcar para Harare, capital do Zimbabwe, onde iríamos passar a sexta-feira, para no sábado pela manhã voar para Moçambique. Voltei para o albergue, decidido a resolver minha logística. O diabo é que o wifi do hotel só funcionava do lado de fora, e os mosquitos fizeram a festa comigo, pois não sabia onde o Leo tinha colocado o repelente, e não dava para esperar ele e o Fabricio voltarem.
Consegui compara pelo celular mesmo uma passagem pela South African, de Harare para São Paulo, e depois pela GOL, uma de São Paulo para o Rio de Janeiro. Tudo isso demorou mais de 2 horas, se não tinha pego malária no albergue de Livingstone, certamente tinha pego ali.