Depois de um dia super intenso como ontem, hoje ainda tínhamos muito pela frente. Acordamos e partimos para conhecer a Jameh Mosque. Para chegar lá caminhando, tivemos que passar pela Iman Square de novo, depois adentrar o Bazar pela entrada principal, e cruzá-lo de ponta a ponta, pois a Jameh Mosque fica do outro lado. No mapa parece perto, mas demoramos mais de uma hora para chegar lá. Até porque paramos algumas vezes para fotos e observar o cotidiano iraniano. Só o Bazar tem 1 km de comprimento. A Jameh Mosque tem mais de 800 anos, e é a maior mesquita do Irã. Além disso, é altamente ativa, muito utilizada no dia a dia pelos iranianos. E é um super museu, realmente impressionante.
Jameh Mosque
Espetáculo
Jameh Mosque – obras de arte
Só no Irã
Teto fantástico
Depois de perambular por todos os compartimentos da mesquita, saímos e fomos rodar pelos mercados e ruelas ao redor da mesquita e do Bazar. Apesar de um pouco apressados, nos tomou bastante tempo, pois foram muitas as paradas para fotos, beber e beliscar algo na rua mesmo. Seguramente faz parte da experiência de Isfahan.
mercado fora do Bazar
Fornecedor da KFC iraniana
Na volta em direção à Iman Square, achamos uma super praça, novinha, nem inaugurada ainda, quase do tamanho da Iman Square, que se tornará um novo mercado, pois ela é toda rodeada de lojinhas. Fico imaginando o que havia lá antes, pois a área é enorme.
nova praça, com novas lojas
Voltamos para dentro do Bazar, até porque o calor não dava trégua. Cruzamos a Iman Square de volta e resolvemos ir até o Rio Zayandeh, que fica na outra direção, mais uns 40 minutos andando. Chamo de rio pois é o que diz o mapa, pois não havia uma única gota d’água para contar a história. Além de estarmos lá no verão, dizem que Yazd está desviando a água de Isfahan, e não passava água por lá havia mais de 5 anos. Depois de alguns meses eu vi fotos da água de volta, o que deve ser um espetáculo à parte. Enfim, existem 11 pontes medievais em Isfahan, 6 delas cruzam o Rio Zayandeh. Algumas delas são verdadeiras obras de arte. Todo o entorno do rio é tomado por um parque, o que torna bem agradável caminhar pelas margens, cruzar uma ponte e voltar por outra, e assim conhecê-las melhor. Algumas nem dão passagem para veículos, somente pedestres. Muitos iranianos se refugiam do calor em baixo delas, alguns para conversar, outros para dormir mesmo. Nem sabia que havia siesta no Irã. Os únicos senões deste passeio foram o calor e a falta de água no rio, no mais, é imperdível. E à noite, dizem que fica tudo iluminado. Infelizmente não fomos lá à noite, pois tínhamos outros planos.
lojinha
Que loja é essa?
Isso é uma ponte, só falta a água
Essa ponte não tem tráfego de veículos
galera descansa de baixo da ponte
Nosso plano só podia ser voltar para a Iman Square. Desta vez fomos até a Sheikh Lotfollah Mosque, que fica na praça, mas estava fechada. Confesso que naquela altura já tínhamos recebido uma overdose de mesquitas, e nem demos muita bola para o fato de não podermos entrar. Depois me arrependi um pouco, pois dizem que esta mesquita, apesar de não taõ grandiosa como as outras, é também espetacular.
Sheikh Lotfollah Mosque
De lá voltamos para a praça, a fim de observar o mundo social iraniano. Descobrimos vários “fiscais” da moralidade, isto é, agentes especiais que ficam observando a multidão, e reprimindo qualquer tipo de comportamento que vai de encontro ao que prega o governo. Aí pode estar incluído alguém que queira vender algo sem licença, e até casais que não poderiam demonstrar afeto. Isso mesmo, qualquer casal que demonstre algum afeto é rapidamente parado e questionado sobre o grau de relacionamento. Se não for casado de fato, não pode, e se cruzar o limite estabelecido pelo governo, pode até ser preso. Encontramos um adolescente, que ficou de papo conosco por um bom tempo, e nos explicou o procedimento para pedir alguma menina em namoro. Ele tem que pedir para a mãe dele ligar para a mãe dela, e marcar o encontro. Se a menina não quiser, a mãe dela dá uma desculpa que seja socialmente aceita, como por exemplo que ela tem que estudar, e aí o namoro não engrena. Caso ela queira evoluir, todos os encontros se dão na casa de um deles, só depois de muito tempo eles podem caminhar juntos pela rua. Ele não achou nada demais, até porque ele só conhece este procedimento.
Passeio de charrete
Foto de família
mais especiarias
Depois de muito caminhar, observar, comprar, e finalmente comer, resolvemos tomar um café no mesmo lugar da noite passada. Estávamos do lado de fora do café, sentados, quando fomos abordados por 2 iranianos, que pediram permissão para sentar conosco. É claro que demos, e o papo foi evoluindo de uma maneira, que quando vimos, o Bazar já estava fechando, e já era hora de irmos dormir. O Dar é um iraniano que vive nos Estados Unidos, e vem de vez em quando ao Irã visitar a família. Muito gente fina, simpático, e ficou mais perto de Leo, engrenou um papo com ele. O outro era o Saeed, uma verdadeira figuraça. O cara tinha pelo menos 2 parafusos à menos. Confesso que foi o papo mais interessante não só desta viagem, mas da maioria delas. Ele é um artista, super politizado, com parentes que trabalham no governo, e tem uma visão toda singular da realidade iraniana. Ele vive viajando, já morou em outros países, namorou estrangeiras, e tem um senso de humor bem ácido. Resumindo o que ele falou : se no Irã você não tem interesse em derrubar o governo, o resto é permitido. Desde que seja entre 4 paredes. mas se você quiser enfrentar o governo, não terá nenhuma chance. As histórias que ele contou são super interessantes, e pena que o tempo acabou. Fomos andando até o hotel, e o papo não acabava. Ele perguntou que horas íamos embora de Isfahan no dia seguinte, eu falou que ia ser às 12:30, ele então nos convidou para um café da manhã no dia seguinte. Convite feito, convite aceito. No dia seguinte acordamos cedo, e saímos do hotel com a bagagem, rumo ao bairro armênio. Era uma das atrações de Isfahan, e nem tinha dado tempo para a gente conhecer esta região. Ficamos procurando um local para sentar, a maioria estava fechada. No caminho, me apontou os locais que vendem bebidas alcoólicas na clandestinidade, e outro que vende drogas. É só saber os locais e conhecer as pessoas certas. Até que ele nos levou à um restaurante de um amigo dele. O local tinha sido um hamman, isto é, um local para banho turco, e foi transformado em restaurante. O dono era bem amigo dele, e nos serviu o melhor café da manhã da viagem. Claro que o papo continuou, e continuava rolando até que chegou a hora de partirmos. Dei pro Saeed uma camisa da seleção brasileira, ele quase teve um ataque do coração de felicidade. Além de não deixarem a gente pagar nada, nos levaram até a estação de ônibus,e ficaram conosco até o ônibus partir. Apesar da alegria de ter encontrado pessoas tão legais e interessantes, ficou uma sensação ruim, já conhecida, de saber que provavelmente nunca mais ia encontrar esses caras de novo no futuro. Mas certamente vão ficar na minha memória, e serviram de mais para incrementar minha opinião positiva sobre o Irã.
Nossos amigos Saeed e Dar, o melhor café da manhã da viagem
Saeed com minha lembrancinha
Passagem para…