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Resumo da Viagem – Irã

Todas as vezes que me perguntaram para onde eu estava indo, e eu mencionava o Irã, só tinha 2 reações : ou a pessoa reagia com frases tipo “tá maluco?”, “não tem um lugar menos perigoso?”, “o que que você tem na cabeça? nada?”, etc, ou a pessoa ficava em um silêncio total, mas pensava em algumas destas perguntas. Não tive nenhuma reação do tipo : “que legal”, “também queria ir”. Com exceção da minha mãe, que queria e ainda quer muito ir para lá. Mas o fato é que apesar do tal frio na barriga, de ir para um lugar considerado sinistro, de difícil acesso, onde há poucos turistas, no fundo eu sabia que ia adorar, que ia conhecer um país onde a grande atração é o povo, além da cultura milenar. Eu já tinha lido muito e ouvido pouco sobre o Irã, e eram unanimidade as opiniões, principalmente sobre as experiências positivas. Mesmo assim, eu confesso que me surpreendi. Não só com a amabilidade do povo, não foi uma grande surpresa, mas mais do que eu esperava, mas também com a facilidade de se viajar por lá. Tudo é tranquilo, transportes, hotéis, informações, trocar dinheiro, comer, etc. Mesmo nos lugares mais remotos que visitei se consegue se virar. É verdade que fui nos lugares turísticos, ou em cidades grandes, como Tabriz, e assim ficou mesmo mais fácil.

Política : como eu já havia escrito antes, política é um assunto extremamente delicado no Irã. Claro que a maioria das pessoas quer falar sobre política, sobre o que acontece fora do Irã, das perspectivas do país, e principalmente quer saber o que os estrangeiros pensam do país. Mas o fato é que para se ter esta experiência tão positiva no país, o viajante deve esquecer de política. Pois caso contrário, não vai gostar do que vai ver. O povo é extremamente reprimido, e principalmente controlado. Nas ruas, não passa nada sem o controle do governo. A religiosidade extrema às vezes esconde um povo que quer dar seu grito de liberdade, quer tirar o véu da cabeça, quer colocar um bom par de bermudas (principalmente no verão escaldante), quer interagir com outros povos, quer namorar na rua, quer beber (será !?), enfim, uma liberdade absolutamente inexistente no país. Até em Cuba eu vi mais liberdade, apesar de todo o controle que lá existe também. Pelo menos em Cuba as pessoas podem se divertir. No Irã, somente entre quatro ou mais paredes. O resumo que eu fiz é bom adequado : se você não tem intenção de derrubar o governo, pode-se tudo no Irã, desde que escondido, ou que você suborne a polícia. Agora, se tiveres segundas intenções com relação ao governo, tome cuidado, sua vida corre perigo. Uma pena!

Povo : medalha de ouro total. Poucas vezes fui tão bem tratado, com tanta simpatia genuína. É claro que há outros povos que também merecem medalha de ouro, poderia aqui citar alguns (Vietnã, Bangladesh, Líbano, Etiópia e Uganda são alguns deles). Experiências maravilhosas, de gente que queria nos conhecer, nos ajudar, sem querer nada em troca. Acho que muitos fazem porque são assim outros por conta da religião, e alguns por que esperam que quando voltemos para casa, passemos adiante uma opinião positiva sobre o país e o povo. Eles reconhecem que são vistos fora do país como um bando de lunáticos, terroristas, que odeiam à todos e tudo que vem do ocidente. Nada mais errado. Totalmente o contrário. Estou escrevendo tudo isso, tentando não me lembrar dos excelentes papos que tive com o Sayeed, aí eu fico mais parcial.

Comida : quando chegamos ao Irã, meu estoque de chocolate já estava no fim, e realmente não precisamos nem comprar mais. Além da comida ser ótima e barata, existe uma fábrica iraniana de Magnum, aquele sorvete delicioso, que no Brasil é o mais caro do freezer. No Irã o gosto do sorvete é o mesmo, e é muito barato. Então eram 2 ou 3 por dia. e meu regime foi pro espaço. Claro que comi muito kebab, e aquele pão árabe que eu adoro. Nesse ponto o Leo sofreu um pouco, pois sendo vegetariano, teve que batalhar um pouco mais para encontrar um menu adequado. Não tive nenhuma inveja dele.

Hotéis : ficamos em hotéis o tempo todo. O de Tabriz era mais simples, mas os outros foram fantásticos. O de Yazd não tinha luxo no quarto, mas o ambiente do hotel era mágico, muita troca de informações e experiências. Foram os melhores hotéis da viagem. O mais caro foi o de Teerã, que custava US$ 90 para um quarto triplo, com café da manhã. Uma pechincha.

Transporte : muito fácil de pegar. Primeiro o excelente trem de Tabriz até Teerã. Depois pegamos ônibus VIPs, com ar condicionado e tudo. Alguns táxis também, pois para ir até Abyaneh, como a Angélica diz, só de táxi. Dentro das cidades testamos ônibus e metro (em Teerã). A experiência de andar de ônibus, onde homens andam na frente e mulheres atrás foi estranha, e para mim meio constrangedora. Não gostei desta discriminação. No metro de Teerã é assim também, os últimos carros são para mulheres ou casais. Transporte foi um dos pontos altos da viagem, certamente.

Vistos : o visto foi tirado em Brasília, sem eu ter posto os pés na embaixada. Muito simples, sem burocracia. Para quem chega de avião, é possível tirar no aeroporto, mas como não era nosso caso (entramos por terra), tivemos que tirar antes. Graças à amizade do Lula com o Ahmadinejad, tudo ficou fácil para brasileiros.

Segurança : 200%. Um dos lugares mais seguros que já visitei. Claro que tudo pode mudar no futuro. Eu disse a mesma coisa quando visitei a Síria. Mas hoje posso afirmar que não há qualquer chance de acontecer nada de violento. Arrisco dizer que também são mínimas as chances de se ter algo furtado em qualquer lugar do país. Me senti assim o tempo todo.

Outros viajantes : como escrevi antes, não havia tantos turistas assim. Claro que americanos não são bem vindos, mas tem um pouco mais de europeus que no Cáucaso. Principalmente em Isfahan, que é o lugar mais turístico. vimos grupos de italianos, espanhóis e alemães por lá.

Planejamento : para o pouco tempo que tínhamos, acho que vimos o principal. Não acho que perdemos muitos lugares, apenas fiquei com vontade de sair um pouco da rota turística, conhecer vilarejos que não tivessem turistas. E ir até Mashhad, que é a cidade mais religiosa do Irã. Mas fica no nordeste do país, perto da fronteira com o Turcomenistão, e ficava bem longe da nossa rota. Pena.

Companhia : bem, a do Khouri durou no Irã por 2 cidades, Tabriz e Teerã. Lamento, pois eu sabia que ele queria muito continuar a viagem. Sobramos eu e o Leo, que me aturou até o final. Já veterano de outras aventuras, não tivemos problemas, quanto mais em um lugar tão fácil de viajar. Voltamos com o eterno gostinho de querer mais, de começar a pensar nas próximas viagens. É realmente uma doença incurável (Graças à Deus!).

 
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Posted by on March 10, 2015 in Caucasus, Cáucaso, Iran, Irã

 

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Resumo da Viagem – Cáucaso

Chegou a hora de resumir a viagem. O certo é dividir em 2 capítulos, um sobre o Cáucaso e outro sobre o Irã, pois são muito distintos, apesar de fazerem fronteira. Isso por si só já é incrível, como pode? Tudo é tão diferente, e separado somente por uma ponte. Achei fascinante passar fisicamente por essa fronteira entre 2 mundos tão diferentes entre si.

Mas vamos lá, comecemos pelo Cáucaso. Primeira pergunta : onde fica, Ásia ou Europa? Geograficamente falando, a cadeia de montanhas separa a Europa da Ásia. Então a Rússia fica na Europa e o resto fica na Ásia. Difícil imaginar Tbilisi como uma cidade asiática. Tem toda a cara de Europa. Erevan idem.

Política : bem, para qualquer viajante minimamente interessado na região, é imperativo estudar um pouco do que aconteceu por lá, mesmo que seja nas últimas décadas. Até para entender a confusão que é atravessar uma simples fronteira, quais que são abertas, e quais que não são. E os vistos? Se tens um carimbo de entrada na Armênia, vais ter problemas no Azerbaijão. Eu que ganhei um carimbo de entrada em Nagorno Karabakh  já sei que sou persona non grata no Azerbaijão. Provavelmente nunca mais serei aceito por lá. Na Abcázia, se entra pela Rússia, só se pode sair pela Rússia. Se entra pela Georgia, só se pode sair pela Georgia. E assim vai. Entender os conflitos também ajuda, o porquê de religiões diferentes, de tanta briga, ódio e desconfiança em um pedaço de terra tão pequeno. Mas é claro que não deixa de ser super interessante e intrigante buscar saber sobre tudo isso, principalmente antes de ir, e depois ver in loco. Conversar com as pessoas, ouvir seus pontos de vista, enriquece mais ainda a viagem. Até porque não é uma região 5 estrelas em matéria de atrações turísticas, então se não tem interesse pela história e cultura, não é o destino ideal. Para mim, uma agradável surpresa.

Povo : neste quesito a medalha de ouro vai para a Georgia, até porque foi o lugar onde mais ficamos. No Azerbaijão foram 2 dias em Baku, uma cidade grande, então é até injustiça. Me lembro do motorista de táxi que me levou de graça do aeroporto até o centro de Baku. Onde mais no mundo isso acontece? Não tivemos nenhuma situação desagradável, em nenhum dos países, fora aquela em Grozny, onde estávamos de bermudas em uma cidade muçulmana e extremamente conservadora. De quem foi a culpa? Claro que nossa. E não posso deixar de mencionar que, apesar de termos perdido muito tempo com a polícia em Vladikavkaz, todos os policiais foram extremamente educados, e não nos intimidaram nenhuma vez.

Comida : aí o bicho pegou. O Guilherme tem estômago de aço, e come até pedra, mas eu tenho minhas restrições. Mesmo assim, sempre acho alguma opção. Confesso que o prato mais tradicional da Georgia tinha chance zero de ser provado por mim, mas me dei bem com outras opções.Sorte minha que existe uma boa influência árabe, e me deliciei com os kebabs em todo o lado. Tomamos bastante cerveja, antes de irmos pro Irã. Em Tbilisi, o fato de temos ficado ao lado do Carrefour nos ajudou bastante.

Hotéis : ficamos em hostel na maioria dos lugares. Não era alta estação, por causa do calor, e também pela falta de turistas, então a maioria nem estava cheio. Baratos e com razoável infra. Todos tinham wifi, muitos tinham café da manhã, e todos eram bem localizados. Só destoou em Vladikavkaz, na Rússia, que definitivamente não é uma cidade turística.

Transporte : pegamos um pouco de tudo. Começamos com trem, depois mashrutkas, que são os táxis comunitários, ônibus intermunicipais, e até carro com guia (em Nagorno Karabakh). Nas cidades pegamos metro, táxi, ônibus, quase tudo que se locomovia. Nenhum stress, fora claro, aquela estrada na Rússia, de Vladikavkaz até Grozny. Aliás, tudo de exceção aconteceu na Rússia.

Custos : esta parte da viagem foi barata. Não extremamente barata, porém bem mais barata que no resto da Europa. Basicamente tudo nesses países é mais barato do que na Europa, comida, transporte, hotéis, passeios, etc.

Vistos : já tinha mencionado que precisamos de visto para o Azerbaijão e Armênia. Tirei o do Azerbaijão em Brasília e o da Armênia em São Paulo (que é de graça). Poderíamos ter tirado na chegada, mas foi bom ter saído de casa com o assunto resolvido.

Segurança : essa questão é complicada. Segurança relacionada a roubos e furtos é total, não tivemos nenhum problema com isso. A questão complexa é relacionada aos conflitos entre os países, aí o bicho pode pegar. Depois que voltamos, houve 2 atentados à bomba em Gronzy, onde estivemos, e um ataque de helicópteros em Nagorno Karabakh, onde também estivemos. Se tivessem acontecido antes de irmos, não sei se a viagem teria acontecido, pois foi bem onde passamos, e a sensação de clima de guerra existe em muitos lugares. Claro que já sabíamos de tudo isso antes da viagem, mas não achava que estava correndo algum risco quando saí de casa. O que todos temiam era o Irã, exatamente o local mais seguro de todos.

Outros viajantes : como escrevi antes, não havia tantos turistas assim. E em locais como esses, os turistas normalmente querem trocar experiências, e informações. Conhecemos pessoas interessantes, não muitas, até porque em um determinado ponto estávamos em 4, e não havia tanta oportunidade assim. Os hostels são os principais locais para se conhecer mais gente.

Planejamento : bem, com o tempo escasso, acho que fizemos o melhor que podíamos. Deixei para trás a região de Mestia, que me pareceu ser a mais legal das que eu não fui. O interior do Azerbaijão também foi esquecido, só que esse vai ficar para a minha próxima encarnação, já que não entro mais naquele país (por conta do carimbo de Nagorno Karabakh no meu passaporte). No mais, vi tudo o que eu queria. Só deixamos a Ossétia do Sul de lado, já que não conseguimos a autorização para entrar lá. Fica para a próxima?

Companhia : excelentes. À 2, 3 ou 4, sempre de alto astral, com pessoas interessantes, viajadas e interessadas. Nada a reclamar. Guilherme já ficou íntimo, foi nossa 2a viagem. O Khouri e o Leo já são veteranos de viajar comigo, já me aturam há décadas, então não teve stress.

 

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Agdam e Tatev. Dois lugares tão próximos e tão diferentes

Acordamos cedo e tomamos um bom café da manhã. O Guilherme não tirou da cabeça a visita à Agdam, e o Armen também não tirou da sua cabeça que ele não ia. Mas como aventura é pouco pra nós, tomamos coragem, e decidimos visitá-la mesmo assim. Nosso amigo Armen se recusou a nos levar lá, disse que era proibido e perigoso, enfim, criou um clima de mais medo ainda. Ele nos levou de carro até Stepanakert, nos deixou em um ponto de taxi em frente à estação de ônibus, e negociamos com um deles para nos levar até lá. A condição é que não desceríamos do carro, só tiraríamos algumas fotos discretamente da janela. E assim foi.

Só um comentário : à princípio o Khouri disse que não queria ir à Agdam, mas depois que viu o clima da casa dos horrores, ele decidiu ir conosco. Afinal, achou mais seguro ir à uma zona de guerra do que ficar nos esperando por lá. Outro motivo é que de manhã deu pra ver que Shushi é super pequena (3.500 habitantes), sem muitos atrativos, e ia ser bem entediante pra ele ficar nos esperando lá.

Agdam já teve mais de 100.000 habitantes, e hoje é uma cidade fantasma. Não há ninguém morando lá. O único prédio que restou de pé, mesmo assim semi destruído foi a mesquita. Claro que depois de os azeris a abandonarem, a galera foi lá saquear tudo o que sobrou. Como é uma região perto da fronteira do Azerbaijão, ela é ocupada pelo exército, e teoricamente proibida para turistas.Recentemente saiu uma reportagem sobre o time de futebol chamada Karabakh, que fez história, e se classificou para a fase de grupos da Liga Europa. Foi o primeiro time azeri a conseguir este feito. Como o nome do clube diz, eles são de NK, mais especificamente de Agdam. Claro que a sede deles hoje não é mais em NK, fica em Baku.

O lugar é à princípio meio decepcionante, pois não há nada para ver. Depois é que me toquei que a atração era exatamente essa, de não ter mais nada lá. Rodamos pelas ruínas, até chegarmos na mesquita semi destruída. Tiramos fotos da janela do carro mesmo. A visita foi rápida, pois nem podíamos parar o carro. Havia soldados espalhados, mas ninguém nos abordou, e pudemos regressar à Stepanakert sem problemas.

Shushi, da janela da casa dos horrores

Shushi, da janela da casa dos horrores

Agdam - ou o que sobrou dela

Agdam – ou o que sobrou dela

Mesquita de Agdam

Mesquita de Agdam

De Agdam voltamos à Stepanakert e ficamos na praça central esperando pelo Armen. Logo ele chegou e pegamos a estrada em direção ao Monastério de Tatev. Para isso, obviamente precisamos cruzar a fronteira de volta para a Armênia. Tatev fica no alto de uma montanha, no fim de um canyon. A paisagem é absolutamente espetacular. De lá se vê inclusive as montanhas de NK. O local é tão inusitado, que existe um teleférico para chegar lá. Este teleférico tem quase 6 km de extensão, é o mais longo do mundo. A paisagem do teleférico e´de tirar o folego, mesmo pra quem não tem medo de altura. O consolo é que dá para ver lá de cima a estrada que precisam pegar se não quiserem utilizar o teleférico. O Armen nos deixou no local onde se pega o teleférico e foi nos pegar lá em cima. Portanto nós utilizamos esta estrada na volta. As fotos falam por si.

Teleférico de Tatev

Teleférico de Tatev

Vista do teleférico - lá em baixo a estrada alternativa de quem tem medo de altura

Vista do teleférico – lá em baixo a estrada alternativa de quem tem medo de altura

Na verdade nem precisava ter um monastério no alto da montanha para se tornar um passeio excelente, mas com este atrativo a mais, o programa se torna imperdível para quem visita a Armênia. Um dia antes de eu deixar o Brasil, passou na TV o Globo Repórter sobre a Armênia, e no programa mostra o teleférico e o monastério. Mas ao vivo posso afirmar que é bem mais espetacular, não dá nem para comparar.

O monastério em si é meio padrão, já estávamos meio cansados de tantos monastérios, então já passávamos meio batidos. Tem uma igreja principal, como todos os outros. Essa se chama Surp Poghos-Petros, o que significa Igreja de St. Paul and St. Peter. A vista lá de cima é inspiradora.

Tatev - espetáculo!

Tatev – espetáculo!

Igreja de St. Paul and St. Peter (Surp Poghos-Petros), dentro de Tatev

Igreja de St. Paul and St. Peter (Surp Poghos-Petros), dentro de Tatev

Bem, depois de curtir a igreja e o visual, pegamos a estrada de novo, em direção à Goris. Goris é uma cidade que fica em uma encruzilhada. Para o norte, fica Nagorno Karabakh. Para oeste, Erevan, que era para onde o Armen ia, levando o Guilherme. E para o sul, a estrada que leva à fronteira com o Irã, que era para onde íamos no dia seguinte. Portanto, foi a nossa real despedida do Guilherme. A partir dali, seríamos somente 3.

Um breve comentário sobre o grupo. Na verdade, apesar de conhecer o Leo e o Khouri há décadas, foram eles que “invadiram” minha viagem com o Guilherme. Viajar à 4 é diferente de viajar à 2, há vantagens e desvantagens. Mas tenho que admitir que para o Guilherme, tão acostumado a viajar sozinho, deve ter sido no mínimo estranho ter que passar quase 2 semanas à 4, quanto mais com 2 que ele nem conhecia. Ou ele fingiu muito bem, ou realmente conseguiu se adaptar bem. Até porque não houve qualquer stress desde o início da viagem, sempre com o clima de alto astral.

Praça central de Goris

Praça central de Goris

Antes de mais nada, o Armen parou um motorista na rua, e perguntou quanto ele cobraria para nos levar até Agarak, na fronteira com o Irã. São “apenas” 165 kms. Acertamos o preço, e marcamos dele nos pegar no dia seguinte cedo no hotel.

O hotel que ficamos em Goris surpreendentemente foi o melhor da viagem. Um brinco de quarto, mas o melhor viria no dia seguinte. A cidade era quase fantasma, pouquíssimas pessoas nas ruas, quase tudo fechado, mas conseguimos achar um local para trocar dinheiro, e ainda melhor, um mercado para comprarmos mantimentos para a longa jornada do dia seguinte, rumo ao Irã.

Pra completar, um restaurante onde pudemos tomar a última cerveja com álcool da viagem, jantar e ir descansar desses 2 dias super hiper cansativos. Não tínhamos ideia de como esses 2 dias iriam afetar nossa viagem. Como escrevi no último post, aquele Niva não foi feito para carregar 5 adultos em lugar nenhum, quanto mais nestas estradas horrorosas. Antes de dormir, o Khouri começou e reclamar de dor nas costas. Pelo menos no dia seguinte seríamos nós 3 e o motorista, sobraria mais espaço, e o carro era um Renault Logan, bem espaçoso e mais confortável que o Niva.

 

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Nagorno Karabakh – mais um “não país”

O Armen chegou cedo, às 6 da matina, e partimos. Ele tinha um Niva, que pode ser bom pra muita coisa, menos pra carregar 5 adultos por estradas horrorosas. Mas aventura é isso mesmo, então pé na estrada. A primeira parada foi no alto do Cascade, para tirar fotos do Monte Ararat, que só é visível de Erevan em dias muito claros. E tiramos boas fotos.

Vista do Monte Ararat às 6:30 da manhã

Vista do Monte Ararat às 6:30 da manhã

Depois caímos na estrada, rumo à Sevan, uma bela cidade que fica à beira do Lago Sevan. Sevan é a Riviera da Armênia, no verão fica lotada de turistas, a maioria armênios, pois é a melhor praia do país. O objetivo da visita era o Sevanavank (Sevan Monastery). Imponente, ele fica no alto de um morro, permitindo dezenas de fotos dele com o lago ao fundo. Mais um lugar de cartão postal. A vista é espetacular, rivaliza com Khor Virap como a mais bonita da Armênia.

Sevan Monastery

Sevanavank – Sevan Monastery

Passamos pelo centro da cidade, para comprar mantimentos, já que teríamos um longo dia pela frente. Mas as opções eram escassas, senti muitas saudades do Carrefour de Tbilisi. Mesmo assim fomos em frente, dentro do desconfortável Niva. Visitamos um cemitério medieval, bem bacana. Fomos contornando o Lago Sevan até termos que desviar no sentido de Nagorno Karabakh. Paramos na última vila, chamada Vardenis, essa realmente tinha cara de final de linha, onde o vento faz a curva. Dali pra frente, estávamos entrando em um mundo meio sinistro, e vou explicar porque.

Cemitério medieval - com ovelhas pastando

Cemitério medieval – com ovelhas pastando

Khouri fazendo um lanche em Vardenis

Khouri fazendo um lanche em Vardenis

Pra começar, só o significado do nome já mostra o cartão de visitas dessa encrenca. Nagorno significa montanhoso, em russo. Kara significa preto, em turco. E bakh significa jardim, em persa. Como todo a região do Cáucaso, Nagorno Karabakh (NK) foi habitado séculos antes de Cristo, e em algum momento fazia parte da Grande Armênia. Não sou perito em História, quanto mais desta região, apenas estou repassando o pouco que entendi, bem resumido, não quero ser acusado de estar escondendo parte do que aconteceu. Mas o fato é que depois de muitas conquistas, dentre elas pelos turcomanos, persas e russos, com sua população indo e vindo, emigrando e imigrando, até que chegamos à era soviética. Após a Revolução Russa, Stalin formou a República Democrática Federativa Transcaucásia, formada pelo que hoje são Azerbaijão, Geórgia e Armênia. Logo foi desmembrada e começou o conflito entre a Armênia e o Azerbaijão envolvendo várias regiões, NK entre elas. Pra complicar mais ainda, os britânicos intervieram e indicaram o Azerbaijão como governantes, o que iniciou mais uma rodada de conflitos. Logo depois, em 1920, o exército bolchevique invadiu, e, em uma manobra política com a Turquia, acabou devolvendo NK para os azeris. Durante toda a duração da União Soviética, este status não mudou, mas o fato é que a maioria da população era armênia, e é claro que mais cedo ou mais tarde ia dar confusão. E deu.

Com o declínio da União Soviética, em 1988 os conflitos recomeçaram, iniciando o êxodo das minorias azeris para o Azerbaijão e armênias para a Armênia. Em 1989 os soviéticos saíram do governo, e logo depois o Conselho Nacional proclamou unificação com a Armênia. Nada disso poderia dar certo, e só demorou mais 2 anos até que a guerra efetivamente começasse. Foi uma carnificina. Dezenas de milhares de mortos, refugiados pra todos os lados, principalmente os azeris, que quase não existem mais em NK. Hoje NK é um estado independente, tem seu governo próprio, sua bandeira, etc. Mas é intimamente ligado à Armênia, tanto que usa sua moeda, e tem muitos soldados armênios por lá. Cerca de 95% da população é de armênios.  Um exemplo mais forte ainda é que um ex primeiro ministro de NK, Robert Kocharian, virou primeiro ministro da Armênia e depois presidente. A pergunta que não quer calar : porque a Armênia não anexo de vez NK? Simplesmente por medo da comunidade internacional, que ainda reconhece NK como parte do Azerbaijão, e do próprio Azerbaijão, que pelo visto ainda não desistiu de retomar para si esta região. É claramente uma situação pendente, e muita água vai passar ainda por debaixo desta ponte. Quando estávamos em Baku, no Azerbaijão, conversando com o povo local, dá pra sentir claramente que eles consideram NK como terra deles, que foi tomada na mão grande, e que mais cedo ou mais tarde vai ser retomada. Eles se consideram pacíficos, mas é só da boca para fora. Eles só não entram em guerra de novo porque a Grande Irmã Rússia não deixa. Na Armênia é exatamente ao contrário, eles acham que NK é deles, e um dia será finalmente anexada. E em NK, eles se consideram independentes, não querem estar com ninguém, mas é claro que pela etnia e cultura, se inclinam pela Armênia.

Na semana passada um helicóptero do exército de NK foi derrubado for forças azeris, demonstrando que as tensões só aumentam na região, em vez de diminuir. Claro que se tivesse acontecido antes da nossa viagem, iria nos fazer provavelmente alterar nossos planos, pois ninguém estava disposto a arriscar sua vida apenas para visitar este enclave. Mas, assim como na Chechênia, os ataques só aconteceram depois da nossa volta, graças à Deus foi tarde demais. Lembro que em 2011 estava em Lamu, no Quênia, quando aconteceu um sequestro e assassinato de um turista, enquanto eu estava lá. Não vi, não me afetou, pois estava de partida no dia seguinte, mas não deixa de ser uma sensação bem estranha.

Dito tudo isso, fiquei na dúvida se comemorava meu 100º país. Ora, se é um estado independente, porque não? E a Palestina, que aliás foi ontem reconhecida pela Suécia, não conta? Quando que conta? Cada um tem sua conta, e a minha tem, além dos países reconhecidos pela ONU, os países que de fato funcionam independentes. Palestina, Abcásia, Kosovo são alguns deles. Este número 100 nunca foi um objetivo em si, apenas uma consequência de sempre preferir ir à lugares diferentes do que repetir os lugares já visitados, mesmo aqueles que eu gostei muito. Esses ficam na minha lista de desejos futuros, mas a preferência sempre será por novidades. E nessa viagem o que não faltou foi novidade.

Depois que partimos de Vardenis, duas coisas aconteceram : a paisagem ficou bem montanhosa, e deserta ao mesmo tempo. Deserta de carros e pessoas. Existe um posto fronteiriço, mas que não para ninguém para checagem. O que precisávamos fazer era chegar em Stepanakert, capital de NK, e tirar o visto lá mesmo. Pra não dizer que não vimos ninguém, paramos nosso Niva na estrada para umas fotos, bem perto de um trator. Enquanto todos tiravam fotos da paisagem montanhosa, e muito bonita, por sinal, o motorista veio me oferecer drogas. No mínimo inusitado.

Na estrada, em Nagorno Karabakh

Na estrada, em Nagorno Karabakh

Continuamos balançando furiosamente na estrada que era ora de terra, ora de cascalho, ora de pedrinhas, e quase nunca de asfalto. O Armen me disse que uma vez teve problemas com o carro, e ficou mais de 8 horas esperando por ajuda, de tão deserto que é o caminho. O caminho principal do país é a estrada que liga Erevan para Stepanakert, a capital de NK, e para onde estávamos indo.

De repente, do meio do nada, o Armen sai da estrada, sobe um morro e chega no Monastério Dadivank. Simplesmente perdido no meio do nada. Incrível.Foi construído no século XIII, e hoje está praticamente abandonado. Muito triste ver a situação de uma atração como essa. A vista de longe é linda, mas de perto dá dó.

Dadivank Monastery

Dadivank Monastery

Mais adiante na estrada, uma parada para tirar fotos de um dos tanques abandonados da guerra recente.

Tanque abandonado na beira da estrada

Tanque abandonado na beira da estrada

O vilarejo de Vank merece alguns comentários. O primeiro é que eles construíram um muro feito de placas de carros azeris abandonados durante a guerra. Uma imagem que nunca tinha imaginado ver.

Muro formado por placas de carros azeris

Muro formado por placas de carros azeris

O outro comentário é que este vilarejo é único, pois tem o dedo de um patrono do local, Levon Hairapetian, um barão sediado na Rússia, mas que resolveu entre outras coisas construir um hotel bem esquisito. O restaurante tem forma de um navio, a área de lazer é de um mau gosoto extremo, mas o mais incrível para mim foi ver uma escavação nas rochas em formato de cara de tigre. Eis a imagem :

Escavação em Vank

Escavação em Vank

De Vank, subimos até o Gandzasar Monastery, que é o maior de NK. Bem impressionante, principalmente comparado com os outros, que estão em petição de miséria. Além de bem cuidado, é grande, e tem uma vista bonita lá de cima. Ele é do século XIII

Gandzasar Monastery

Gandzasar Monastery

Após esta visita, rumamos para Stepanakert. Que dia mais cheio. Chegamos já exaustos, mas precisávamos ainda tirar o visto de entrada em NK. Passamos primeiro por um monumento chamado Papik Tatik. É difícl descrever, acho que a foto pode me ajudar. Mas a verdade é que este “casal” aparece em tudo que é souvenir do país. Eles significam”Nós somos nossas montanhas”.

Papik Tatik

Papik Tatik

De lá fomos direto para o centro de Stepanakert, onde fica o Ministério das Relações Exteriores, tirar o visto. Foi rapidíssimo. Talvez explicado pelo fato de que não havia mais turistas (acho que no país todo).

Onde pegamos nosso visto

Onde pegamos nosso visto

Caminhamos pela avenida principal, que tem um nome incompreensível : Azatamartkneri Poghota. É bem agradável, e da em uma praça, onde havia wifi grátis, fontes de água, e vários locais. Difícil saber quem olhava mais para quem, nós para eles ou eles para nós.

Azatamartkneri Poghota (esse é o nome da avenida principal)

Azatamartkneri Poghota (esse é o nome da avenida principal)

Galera das antigas na praça principal. Quem era atração, nós ou eles?

Galera das antigas na praça principal. Quem era atração, nós ou eles?

Perto fica o Palácio Presidencial, e outros monumentos menos cotados.

Palácio Presidencial em Stepanakert

Palácio Presidencial em Stepanakert

Tava visto, e daí fomos tomar uma cerveja com o Armen. Escureceu e fomos para Shushi, sua cidade, que fica à apenas 9 km de Stepanakert, mas tem que subir uma pirambeira. Pra se ter uma ideia, Stepanakert, a capital do país, tem 55.000 habitantes. Shushi tem apenas 3.500.

Chegamos lá, e sua esposa já nos esperava para o jantar. Complicado descrever a situação. Pra começar, o prédio era super velho, e inacabado (ou semi destruído pela guerra, fiquei com vergonha de perguntar). A filha deles era o verdadeiro capeta, fazia maldades com o gato, que me deu nó no estômago. A mãe até pediu desculpas  A infra era super precária, até aí já nem estávamos mais ligando. Só o que queríamos era tomar um banho, comer algo e dormir. Eles tinham um casal de franceses como convidados para o jantar, e assim foi. Claro que pagamos pelo pacote, com carro com motorista por 2 dias, cama e janta. E claro que valeu à pena, jamais teríamos feito tudo o que fizemos em 2 dias sem um pacote destes. Viajar por conta própria em NK deve ser um inferno, nem imagino se é possível.

Jantar na casa dos horrores

Jantar na casa dos horrores

Depois do jantar o Armen foi levar seus convidados em algum lugar e fomos dormir. Já estava no décimo sono quando acordei com um barulho de alguém esmurrando uma porta, falando em um idioma incompreensível. Me toquei aonde eu estava, e resolvi nem me mexer. Isso durou mais de 15 minutos até que o Guilherme saiu do quarto dele e abriu a porta da casa. Era o Armen, que não tinha levado a chave. A mulher dele não acordou com o barulho, e tomou uma super bronca. Aliás, o Armen tratava a mulher dele como empregada, e isso nos incomodou bastante. A filha era uma lunática, imagina como era a vida naquela casa sem visitas. O melhor a fazer era mesmo virar pro lado e dormir.

 

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Dia de Monastérios

O segundo dia na Armênia foi dedicado aos monastérios. Eles não ficam tão longe, mas logisticamente é inviável visitá-los utilizando transporte público, pois ficam em direções opostas. Então a solução óbvia foi contratar um carro com motorista, e partirmos cedo.

O primeiro e bem famoso é o Khor Virap. Ele fica aos pés do Monte Ararat, e em uma posição tão estratégica, que virou quase que um símbolo do país. Dista 30 kms de Erevan, e chegamos lá bem rápido. Qualquer loja de cartões postais tem uma foto dele, melhor do que a minha, claro, pois foi tirada não tão cedo, e aí já tinha uma pouco de névoa e uma pequena nuvem atrapalhando.

Khor Virap, com o Monte Ararat ao fundo

Khor Virap, com o Monte Ararat ao fundo

O Rei Trdat III, que era pagão, prendeu o famoso Surp Grigor Lusanovich (São Gregório, o Iluminador) por 12 anos em um poço, dentro do monastério. Ele era alimentado secretamente por mulheres cristãs. Depois disso o rei ficou doido, e foi curado pelo São Gregório. Isso o fez se converter ao cristianismo, e tornou o São Gregório o chefe da Igreja Apostólica da Armênia. Para descer neste poço onde ele ficou preso tem que ter um pouco de coragem e jeito, pois a escada é daquelas de ferro, bem vertical. Hoje Khor Virap é um lugar de peregrinação, e como era domingo, estava bem cheio.

Khor Virap

Khor Virap

O maior bigode do mundo

O maior bigode do mundo

O próximo a ser visitado foi Geghard. Ele fica em em canyon, uma localização bem diferente, e bem fotogênica também. Foi fundado no século IV, e destruído pelos invasores árabes em 923. Do lado de dentro, há 2 igrejas, a principal delas se chama Surp Astvatsatsin (que sopa de letras!). Depois de entrar nela, há 2 portas. A da direita leva à uma capela, onde estava acontecendo um serviço religioso, que nos deixou bem emocionados. Estava cheia de gente, cantando e rezando, uma cantoria linda. A outra porte nos leva a uma fonte de água, que dizem ser rejuvenescedora e sagrada. Rodamos muito por lá, e na saída comemos um pão com nozes típico do país, uma verdadeira delícia, ainda somando a fome que já tínhamos naquela altura. Este foi o que mais gostei, um pouco influenciado pelo movimento dominical, e por ter chegado na hora do serviço religioso.

Geghard

Geghard

Serviço religioso em Geghard

Serviço religioso em Geghard

Pão com nozes delicioso

Pão com nozes delicioso

De lá fomos para o último monastério, o de Garni. É um templo helênico, mais parece um templo romano. Foi construído no século I. Isso mesmo, esta região é velha mesmo, faz a Europa Ocidental parecer toda moderna.

Garni Temple

Garni Temple

Apesar das distâncias, e do calor, foi um dia proveitoso. Visitamos as 3 principais atrações nos arredores de Erevan, fora Echmiadzin, claro. E deu tempo. Tanto que fomos tomar uma gelada em um barzinho no pé do Cascade, pra comemorar o sucesso da viagem até agora. Amanhã partiremos para Nagorno Karabakh, e depois o Guiherme vai embora. Então provavelmente foi nossa despedida, os 4 viajando juntos.

Despedida antecipada do Guilherme

Despedida antecipada do Guilherme

À noite recebemos no hostel o Armen. Um franco-armeno que vive em Suchi, uma pequena cidade ao lado de Stepanakert, capital de Nagorno Karabakh, nossa próxima parada da viagem. Combinamos que ele ia nos levar de carro por 2 dias, íamos dormir na casa dele, e nos deixaria em Goris, de onde partiríamos para o Irã. O Guilherme, como não ia para o Irã conosco, voltaria com ele até Erevan (de onde ele partiria de volta pro Brasil). Marcamos dele nos pegar no dia seguinte bem cedo, pois seria um dia longo.

 
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Posted by on November 11, 2014 in Armênia, Caucasus, Cáucaso

 

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Erevan – uma surpresa agradável

Nossa viagem de trem só não foi melhor porque tivemos que acordar durante a noite para cruzar a fronteira entre a Geórgia e a Armênia. Além disso, a viagem não é tão longa assim, e chegamos relativamente cedo em Erevan. O curioso na fronteira é que na entrada da Armênia, todos os estrangeiros que precisam de visto têm que descer do trem. Eles contam que todos que precisam tirar o visto vão efetivamente tirar o visto, mas não era o nosso caso, já que nós já tínhamos tirado o visto no Brasil. Quando consegui entender o que se passava e explicar isso ao oficial, ele então nos mandou para uma outra sala onde teríamos nosso passaporte carimbado. Até aí tudo OK, mas é que os oficias começaram a processar nossos passaportes dentro da sala, com toda a galera, que foi chegando olhando para a tela do computador, nunca tinha visto aquilo em lugar nenhum do mundo.

Trem de Tbiisi para Erevam

Trem de Tbiisi para Erevan

A chegada em Erevan foi tranquila, pegamos o metro e fomos pro hostel. Era meio apertado, mas bem localizado. Deixamos as coisas lá e partimos imediatamente. Fomos andando até o Museu do Genocídio Armênio. No caminho passamos por um monumento que lembra as províncias do oeste da Armênia, que foram perdidas para o Império Otomano. O Museu está em reformas, pois ano que vem eles vão relembrar o centenário do genocídio. Mas pelo menos há uma sala operando, com fotos e textos sobre o genocídio, bem elucidativo.

Memorial em homenagem às 12 províncias perdidas

Memorial em homenagem às 12 províncias perdidas, com uma galera local

O calor estava senegalesco, mas tínhamos que prosseguir, pois só tínhamos um dia em Erevan. Então pegamos um ônibus para Echmiadzin, que é o Vaticano da Igreja Apostólica Armênia. São mais ou menos 20 minutos, não muito longe. Echmiadzin foi capital da Armênia por somente 160 anos, há quase 2.000 anos, mas se transformou em um local de importância sem igual para os cristãos armênios. Aqui, Surp Grigor Lusanovich, o São Gregório o Iluminador, viu cair uma luz na terra, e foi onde ele construiu a primeira Igreja Mãe da Armênia (Mayr Tachar). O local na verdade é um grande complexo, com uma catedral famosa Mayr Tachar, um Palácio, várias outras igrejas uma livraria, etc. Isso tudo com jardins, fontes, esculturas, enfim, um lugar super agradável, feito para se passar muito tempo. Era sábado e estava cheio, principalmente de armênios, alguns festejando casamentos, mas vimos muitos turistas estrangeiros também. Para nós,, havia 2 problemas : o calor infernal e o tempo escasso. Então depois de uma visita menos demorada do que merecia, tomamos o caminho de volta para Erevan.

Echmisdzin - Catedral em restauração

Echmiadzin – Catedral Mayr Tachar em restauração

Echmiadzin - uma das muitas esculturas nos jardins

Echmiadzin – uma das muitas esculturas nos jardins

Zé das Medalhas

Zé das Medalhas

A última etapa do dia foi dedicada ao centro de Erevan. E confesso que foi uma surpresa mais que agradável. Primeiro passamos pela Surp Grigor Lusavorich Cathedral, uma catedral nova construída em um estilo diferente, com muito mais linhas retas do que o normal, o que dá uma impressão de brutalidade. Depois fomos até a Lenin Square, onde obviamente tinha uma estátua do próprio, e que depois da queda da União Soviética, e independência da Armênia foi retirada de lá. Ela ficava bem no meio da praça, com trânsito em volta, e hoje não tem nada no seu lugar, então a sensação de ficar lá é estranha. O bom é que dá para ter uma visão de 360 graus dos lindos prédios que rodeiam a praça, como National Art Gallery, o State Museum of Armenian History e o Marriot Hotel.

Surp Grigor Lusavorich Cathedral

Surp Grigor Lusavorich Cathedral

Erevam - Lenin Square

Erevan – Lenin Square

O calçadão principal do centro está sendo reformado, e dá para ver que todas as grifes europeias estão chegando ou vão chegar. Depois vimos a Opera House, um lindo prédio, cercado por uma praça, cheia de esculturas, cafés, um movimento intenso de sábado à tarde. Passamos por várias praças, todas bem cuidadas, até chegarmos à atração principal da cidade. Trata-se do Cascade, que nada mais é um monumento comemorativo ao cinquentenário da Armênia Soviética. Como o nome insinua, é uma cascata de degraus, uma grande escadaria com 5 níveis. Cada nível tem uma fonte, algumas esculturas, jardins, etc. Lá no alto a construção parece inacabada, e está mesmo, pois com a independência da Armênia em 1991, eles suspenderam a obra. A vista lá de cima é fantástica, pena que já estávamos no final da tarde, quase escurecendo, mas deu para aproveitar. A descida foi de escada rolante, pois descobrimos que há todo um complexo interno, por baixo da escadaria, com galerias de arte, cafés, banheiros, etc.

Esculturas na rua

Esculturas na rua – Erevan

Escultura Fernando Botero

Escultura Fernando Botero

Cascade

Cascade

Vista lá de cima do Cascade

Vista lá de cima do Cascade

Voltamos caminhando pro hostel, vendo o movimento de sábado. Na medida em que vamos nos afastando do centro, os prédios vão mudando, a cidade vai ficando com uma cara mais soviética, uma transformação gradual, mas constante. Por falar nisso, o idioma aqui rivaliza com o georgiano. Não dá para entender absolutamente nada. Sorte que muitas placas estão em inglês, e isso só tende a aumentar graças ao fluxo de turismo crescente.

Dá para entender alguma coisa?

Dá para entender alguma coisa?

Este dia foi dos mais cheios de atividades, vimos nele o que normalmente se vê em pelo menos 2 dias. Mas é o preço que pagamos pelo calendário apertado. Tivemos tempo sobrando na Geórgia, e agora é ao contrário. Mas seguramente valeu à pena. E também não tinha como ir da Geórgia para o Irã sem passar por aqui.

 
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Posted by on October 29, 2014 in Armênia, Caucasus, Cáucaso

 

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Mtskheta – capital espiritual da Geórgia

Mtskheta é outro passeio perto de Tbilisi que vale à pena. Foi a capital da Geórgia por 8 séculos, do século III AC até o século V DC, quando a capital foi transferida para Tbilisi. Não fica longe, de transporte público demora meia hora pra chegar lá, A cidade é um brinco, toda de pedra, e bem pequena. De cara demos com a grande e imponente Catedral Svetitskhoveli, construída no século XI. É certamente uma das mais bonitas de todo a viagem.

Svetitskhoveli Cathedral

Svetitskhoveli Cathedral

Depois de visitá-la, passeamos pela pequena cidade, e arranjamos um taxi para nos levar até o topo de um morro do outro lado do rio, realmente não dava para ir à pé. Delá pra ter uma vista bacana de Mtskheta.

Vista de Mtskheta

Vista de Mtskheta

E lá fica a Javri Church,que é considerada na Geórgia a mais sagrada do país. Por isso Mtskheta é a capital espiritual da Geórgia. Ela foi construída no século VI, mas a cruz do lado de fora é do século IV.

Jvari Church

Jvari Church

Pra variar, muito calor. Aliás, essa foi a maior onda de calor na região das últimas décadas, realmente prejudicou um pouco nossos programas, afeta qualquer ser humano fazer tudo isso com um calor de 40 graus.

Voltamos à Mtskheta, para mais um passeio à pé, e depois retornamos pela última vez para Tbilisi. À noite era nosso trem para Erevan, na Armênia. Nos despedimos de nosso restaurante predileto, da galera do hostel que nos aturou por tanto tempo, e finalmente do nosso parceiro inseparável Carrefour, que nos abasteceu durante mais de uma semana.

Fomos para a estação de trem, e embarcamos para Erevan, próximo capítulo desta longa (pra mim) jornada.

A Geórgia, como havia escrito antes, foi nosso grande hub da viagem, até porque fica no meio do caminho de tudo. Se foi nosso hub, imagina durante séculos, foi hub da viagem de todo mundo, todos os conquistadores, guerreiros, povos em trânsito, etc. Uma mistura de culturas, que culminou com sua cultura única, diferente até dos vizinhos. Comida ótima, povo hospitaleiro, facílimo de viajar, mesmo considerando aquele alfabeto incompreensível. Um povo orgulhoso, até porque recentemente enfrentou a poderosa e invencível Rússia, e mesmo sem ter vencido, claro, é motivo de orgulho para todos. Recomendo fortemente para quem tem interesse em tudo o que escrevi. Reconheço que nunca esteve na minha lista de prioridades, mas a Geórgia saiu como a estrela do Cáucaso.

Acho difícil voltar para a Geórgia espontaneamente, até porque gosto de ir a novos destinos, mas ao contrário do Azerbaijão, não teria nenhum problema caso tivesse que passar por aqui de novo.

 

 
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Posted by on October 27, 2014 in Caucasus, Cáucaso, Georgia

 

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Davit Gareja – complexo de monastérios

Tínhamos mais 2 dias em Tbilisi, que sobraram por conta de não termos conseguido o visto para a Ossétia do Sul. Então escolhemos os 2 melhores programas fora de Tbilisi. E um deles foi visitar Davit Gareja, um complexo de monastérios, na fronteira com o Azerbaijão.

Bem perto de nosso hostel era a saída para este tour, em uma van somente com turistas. Melhor do que pegar transporte público, até porque neste caso Davit Gareja fica longe de qualquer cidade. Foi bem conveniente. Na largada, antes mesmo da van sair, conhecemos uma francesa que já morou no Brasil, e falava português fluente, e um brasileiro gente finíssima, o Alex, de Campinas. Fomos então batendo longos papos com os 2 no caminho, trocando experiências, nem sentimos o tempo passar.

O local é bem remoto, a paisagem é semi lunar, muitas rochas, um calor de rachar, e muito o que caminhar. Se fosse só caminhar, já estaria difícil. O problema é que pra visitar as melhores atrações do complexo, tem que escalar uma montanha, debaixo de uma sol inclemente. Já merecíamos um prêmio só por estar lá.

O primeiro monastério, logo na chegada, é o Lavra. Ele é composto por 3 níveis, cada um de uma época diferente. A área mais antiga data do século VI e a mais nova do século XVIII. Ele foi atacado e destruído várias vezes ao longo da história, por vários invasores, mas resistiu ao seu jeito, e está aí como uma bela atração turística. Já foi habitado por muitos monges, a maioria mortos durante ataques, e hoje uns poucos monges ainda moram por lá.

Lavra Monastery

Lavra Monastery

Lavra visto de cima, olha a paisagem e a pirambeira!

Lavra visto de cima, olha a paisagem e a pirambeira!

Para visitarmos o segundo monastério mais importante tivemos que subir o morro, passar por uma barra de ferro, que marca a fronteira com o Azerbaijão. Tinha até 2 guardas de fronteira azeris lá em cima, torrando no sol. Quem em sã consciência vai tentar passar de um país papa o outro neste local? É pior do que a fronteira EUA – México. Bem do lado de lá do morro, tem uma trilha que leva ao Udabno Monastery, que nada mais é do que uma sequência de cavernas, que serviam de igrejas, capelas, refeitórios, etc, todos decorados por pinturas que datam desde o século X.

Udabno Monastery

Udabno Monastery

Demos a volta completa, e descemos até o ponto de partida, passando por vários outros monastérios, uma capela de pedra bem bonita que fica no alto do morro. Muitas fotos, muito calor, mas valeu bem à pena, pois é um lugar bem diferente de tudo, além de ser remoto. Um programa único.

Capela de pedra

Capela de pedra

Voltamos para Tbilisi, mais papo na van, paramos no caminho para um lanchinho. Bom lugar para socializar com outros turistas.

Bate papo na volta

Bate papo na volta

Chegamos cedo em Tbilisi, à tempo de darmos mais uma volta na cidade velha, fazer nosso tradicional rango georgiano e voltarmos para o nosso hostel. A galera que trabalha no hostel é composta só de garotada, também bons de papo. Só de imaginar que, mesmo jovens, já presenciaram uma guerra, no caso com a Rússia, em 2008, me fez pensar em como sortudos de viver em um país sem guerras, externas pelo menos.

 
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Posted by on October 21, 2014 in Caucasus, Cáucaso, Georgia

 

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Dargavs – A Cidade dos Mortos

Tínhamos combinado com um amigo do Zico para nos pegar no hotel em Vladikavkaz, nos levar a Dargavs, um local à 80 kms, e de lá nos levar de volta à Kazbegi, na Geórgia. Aparentemente era fácil, tudo muito perto, mas na prática não foi bem assim.

Dargavs se trata de um local do século XIII, onde o pessoal deixava os mortos dentro de umas casinhas com uma cara meio simpática. Pra chegar lá, pegamos uma estrada boa, depois saímos para uma menor, mas ainda boa, depois da última cidade naquela região, passamos para uma estrada menor ainda. Quando começa a subir de verdade, a vista vai ficando um show.

Última vila antes de Dargavs

Última vila antes de Dargavs

Vista de um forte em ruínas

Vista de um forte em ruínas

Mais uma meia hora e chegamos em um povoado perdido. Era manhã, e um casal simpático foi nos orientar em como chegar lá. Estávamos à 5 minutos.

Com um casal simpático no meio do nada

Com um casal simpático no meio do nada

A vista de Dargavs de longe já é pitoresca, de perto mais ainda. O local é tão remoto, e tão pouco visitado, que a bilheteria estava fechada, e permaneceu assim por todo o tempo que ficamos. Não chegou nem um funcionário, e nem turista. Somente nós. As casinhas, que não são casinhas, são tumbas, com esqueletos dentro. Os locais não gostam de ir lá, pois dizem que quem vai não volta. Com certeza não foi o nosso caso.

Dargavs

Dargavs

Casinhas simpáticas de perto

Casinhas simpáticas de perto

Depois de pouco mais de uma hora por lá, resolvemos partir de volta para a Geórgia. Pegamos a mesma estrada de volta para Vladikavkaz, e de lá direto para a fronteira. Hoje a fronteira estava mais cheia do que ontem, não sei se porque era no outro sentido. Nosso motorista repetiu o script do Zico, ultrapassando todo mundo, furando fila, na maior cara de pau. Passamos pela saída da Rússia, e entramos naquela terra de ninguém. Aí a coisa ficou feia. Entre os 2 túneis o trânsito parou, e claro que vários motoristas tiveram a mesma ideia de ultrapassar mesmo assim. Quando começou a vir carro do outro sentido a estrada parou de vez, e alguns resolveram ir pelo acostamento do outro lado, e piorou tudo que podia. Ficamos mais de uma hora até eles se entenderem, e darem passagem para quem vinha do outro sentido. O que deu pra perceber é que do lado russo a coisa é bagunçada e os mafiosos mandam no pedaço. Do lado georgiano é diferente, tudo organizado, com fiscalização, e aí todos respeitam.

Caos na terra de ninguém (entre a Rússia e a Geórgia)

Caos na terra de ninguém (entre a Rússia e a Geórgia)

Depois que cruzamos a última fronteira, após mais de 3 horas nas filas, o motorista nos deixou em Kazbegi. De lá pegamos uma van para Tbilisi. Na saída, algumas surpresas, A primeira foi essa aí na foto :

Presos na estrada em um mar de ovelhas

Presos na estrada em um mar de ovelhas

Depois paramos no mirante de novo. E ainda paramos mesmo forte da ida. mas o que mais me impressionou foi a fila de carros e caminhões subindo as montanhas. A polícia fez um bloqueio para não congestionar mais ainda a fronteira. Mesmo com todo a fila que vimos e enfrentamos, havia uma fila de caminhões parados no acostamento da estrada com mais de 10 kms, e ainda várias filas de carros também parados de quilômetros. Acho que demos sorte, pois decidimos atravessar a fronteira no dia seguinte que ela reabriu, e não deu tempo dessa galera chegar lá. Como ela reabriu antes do previsto, quem estava perto, como nós, se deu bem. Muitos tinham ido para o Azerbaijão, entrar na Rússia por lá, pois a previsão era de mais alguns dias ainda para reabrir esta fronteira.

Chegamos à noitinha em Tbilisi, e ainda deu tempo pra novo rango no nosso restaurante predileto.

Nosso restaurante na Gorgasalis Moedani - dá pra entender o nome?

Nosso restaurante na Gorgasalis Moedani – dá pra entender o nome?

Rango georgiano

Rango georgiano

 
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Posted by on October 20, 2014 in Caucasus, Cáucaso, Russia

 

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Chechênia – esta visita não se conta em lugar nenhum

A região que engloba Ossétia, Inguchétia, Chechênia e Daguestão foi habitada há séculos por diversas etnias, que em geral eram governadas por clãs, respeitavam seus líderes, relações sanguíneas, e sempre foram muçulmanas sunitas. A União Soviética, na época de Stalin alterou tudo, mandando os inguches e chechenos para a Sibéria, os acusando de colaboração com os nazistas. Seus territórios e propriedades foram ocupados pelos vizinhos ossetas e daguestaneses, o que originou vários conflitos locais, principalmente após a volta deles. Com o fim da União Soviética em 1991, os chechenos declararam independência. Pela sua posição estratégica, produtora de petróleo, e passagem da Rússia para o outro lado do Cáucaso, a Rússia jamais iria permitir esta separação. Desta forma, o bicho pegou, e o exército russo interveio, originando a primeira das 2 guerras na Chechênia, o que causou mais de 150.000 mortes em 10 anos de conflito. Claro que o conflito aberto não existe mais, por enquanto. Mas a insatisfação do povo com os russos só aumenta, e claramente ainda é um barril de pólvora. A Rússia controla tudo com mão de ferro, e não vai deixar a Chechênia escapar. O controle é tão forte, que os próprios russos dizem que a Chechênia é um dos lugares mais seguros da Rússia hoje em dia. Não é. Há 2 dias houve um atentado de um homem bomba, em um teatro em Grozny. Ainda bem que já voltamos.

A passagem pela fronteira Geórgia – Rússia e a novela de Vladikavkaz foi tão longa que tive que dividir o mesmo dia em 2 posts. No nosso imaginário, ao mesmo tempo que o nome Chechênia assustava por conta da guerra recente, as informações que obtive na internet e com o Guilherme é que era de pura calmaria. E que Grozny estaria reconstruída, depois de ter todos, repito, todos os prédios destruídos na guerra.

Finalmente saímos de táxi para Grozny, na Chechênia. Nosso motorista de táxi não conhecia Grozny, e não entendia porque estávamos gastando tempo e dinheiro para visitá-la, em vez de ir fazer um churrasco nas montanhas. Demos boas risadas com ele. A estrada está em reforma, parte dela já duplicada, e parte ainda em duplicação. Por que estou mencionando este fato? Porque o nosso glorioso motorista se empolgou, acelerou a mais de 130 km/h em um trecho não duplicado. Eu vi uma placa informando que a pista ia virar dupla, e que os carros deveriam desviar à direita, mas aparentemente nem ele nem ninguém viu. O que acabou acontecendo é que ele continuou em frente, na contramão, à 130km/h. Meu coração bateu mais rápido do que isso. Mas claro que não vinha nenhum carro no sentido contrário, se não eu não estaria escrevendo este post agora.

O caminho é meio monótono, e logo chegamos à Grozny. A primeira impressão foi de uma cidade russa qualquer, até chegarmos à avenida principal e depararmos com prédios novos, vários deles altos, hotéis, edifícios comerciais. Como o motorista não conhecia Grozny, e estava com medo de ser parado pela polícia, ele resolveu parar em um estacionamento, e dali caminhar pelo centro, que não dá mais pra chamar de histórico. O que vimos foi uma avenida com quase nenhum pedestre, um ambiente meio artificial. Depois dos prédios comerciais, uma mesquita estalando de novo, um teatro ainda em construção, enfim, tudo novo. Nada que me fizesse relacionar com uma guerra tão recente. Fazia sentido estar tudo reconstruído, mas a sensação era bem estranha.

Shopping novo e com pouco movimento

Shopping novo e com pouco movimento

Mesquita nova de Grozny

Mesquita nova de Grozny

Hotéis e edifícos comerciais

Hotéis e edifícios comerciais

Teatro Nacional quase pronto

Teatro Nacional quase pronto

Andamos bastante, até a mesquita, a avenida de trás, as construções são espaçadas, então tudo é meio longe. Na volta pro carro, começaram a implicar com nossas bermudas. Foi estranho, um ciclista cruzou por mim, depois de um tempo ele deu meia volta, e começou a falar meio agressivamente, puxando a sua própria calça jeans. Concluí que ele estava reclamando do fato de eu estar de bermuda. Aliás, fora nosso motorista, todos estavam de bermuda. Depois alguns carros passaram e as pessoas gritavam da janela algo obviamente ininteligível, mas que concluímos se tratar ainda das bermudas. O clima foi ficando meio quente, e felizmente bem na hora que voltamos ao carro.

Memorial na Inguchétia

Memorial na Inguchétia

Demos mais uma volta pela cidade de carro, e decidimos voltar para Vladikavkaz. Não podia deixar de mencionar o estilo russo de dirigir na estrada. Quando a pista é simples, isto é, mão e contramão, a prioridade é de quem está ULTRAPASSANDO. Isto significa que quem está andando certinho na sua faixa, corre o risco de bater de frente com um louco que vem de encontro. Ou sai da frente, ou acontece o acidente. Acho que todos os distraídos ou resistentes à este sistema devem ter morrido ou abandonado o país, pois o sistema aparentemente funciona bem, ninguém reclama quando vem alguém ultrapassando. Isso acontece até nas curvas. Pra nós, foi super estressante, não sabia se era melhor prestar atenção ou simplesmente não olhar e rezar (muito).

Chegamos todos vivos e intactos em Vladikavkaz. Fomos atrás de alimento, não nos esquecendo que quanto mais tempo ficássemos na rua, maior a probabilidade de sermos parados de novo pela polícia. Então fomos à um mercado perto do hotel, levamos comida pro quarto e dormimos.

Depois de uma dia deste, estávamos todos exaustos física, mental e emocionalmente. Volto a afirmar que não fomos ameaçados nem maltratados pela polícia, mas como não sabíamos qual seria o próximo capítulo, realmente foi muito estressante. Valeu à pena, pois o objetivo era este mesmo, visitar a Chechênia, e conseguimos. E com boas lembranças.

 
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Posted by on October 17, 2014 in Caucasus, Cáucaso, Russia

 

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